segunda-feira, 21 de julho de 2014

Bichos listados

As pessoas são bichos listados, zebras emocionais, mistelas de preto e branco, com uns cinzentos aqui e ali.

Até eu que tenho a mania que tenho de ser inócua, que dispenso mais energia do que deveria a tentar implementar esse objectivo, às vezes sou horrivelmente inconveniente, rude, brutal.

Enfim.. humana.

A minha mãe tem um cão e uma gata - Não se gostam. Trabalho sempre tarde de janela aberta. A gata entra e sai conforme lhe apraz. Hoje saiu para escuridão e desapareceu num gemido sucedido pelo que  me pareceu um som de mordida e um ladrar de vitória.

Sai para a rua a correr com o telemóvel a servir de lanterna e meti-me a perscrutar uns arbustos que me pareceu esconderem o som. Não dei com nada. O cão estava com ar de quem sabia que tinha feito parvoices... Os cães são um pouco como crianças eternas. Sabem o que não devem fazer, mas fazem na mesma, porque para que servirá a vida se não para fazer o que nos apetece? que é isso das regras? coisa tão estupidamente humana.

Estava capaz de lhe dar cabo do canastro. Não sei o que teria feito se tivesse encontrado a gata morta. Vim sentar-me à secretaria a chorar e a pensar o pior. Mas ela veio outra vez ter comigo. Dei-lhe um abraço desesperado. Não creio que tenha compreendido. Os gatos compreendem menos que os cães.

Gostava de lhe conseguir explicar o que significa respeito, espaço. Gostava de conseguir explicar ao cão como gosto da gata e que isso não tem nada a ver com o que possa sentir por ele. Gostava de lhe explicar o que sinto quando ele a ataca. Não seria o primeiro gato a encontrar o destino nos dentes dele. Gostava que ele tivesse capacidade para compreender.


Devia ter eu capacidade para perdoar essa deficiência cognitiva, mas o meu impulso na presença de selvajaria é sempre selvático - Seja o comportamento primordial humano ou não.

Com azar q.b.... ainda me há de custar a vida um dia.

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