domingo, 7 de dezembro de 2014

credulidade

Aconteceu há uns dias e anda a remoer-me. Tinha sido um dia merdoso igual aos outros dias merdosos. Uma coisa desagradávelmente comum nos últimos tempos. Estava coberta por um sentimento de impotência absurdo, uma nuvem negra sobre o futuro daquelas que esconde o horizonte debaixo de nevoeiro...

Recebi uma mensagem de fb daquelas parvas. Não sei quê os anjos perceberam as tuas amarguras e vão salvar-te. Tive uma epifania. Por uns segundos senti um alivio imenso, como se existissem mesmo anjos. Como se pudesse deixar de estar naquele estado de constante martirio, como se fossem realmente salvar-me. Depois qualquer coisa dentro de mim me lembrou que não existem entidades superiores com sentido de justiça que corrijam a merda que os (H)omens fazem.  

Será que deus é isto? Será que é um fenomeno semelhante ao que não nos deixa sonhar que morremos? uma defesa contra o inexorável?

Vi um filme indiano há uns tempos em que o personagem principal aconselhava o companheiro que estava em panico a bater sobre o coração e dizer "tudo está bem, tudo está bem, tudo está bem" ao que ele riposta: "para que vou fazer isso, tudo vai estar igual." e ele elucida: "Ora, tudo estará igual, mas o teu cérebro estará mais livre para encontrar uma solução quando estiver despreocupado."

Talvez seja essa a grande valência de Deus. O baluarte na tempestade que desvia as preocupações, para que a pessoa possa encontrar uma solução por si. Um conceito tão poderoso como a moeda FIAT. Não existe, mas na prática tem valor. Uma abstração que depende da credulidade de quem a usa..

Ando a lutar contra a vontade de me fazer valer dele. Ás vezes detesto ser uma criatura tão racional e materialista. Parece-me que tudo seria mais fácil se fosse uma pessoa mais crédula, mais mistica. Precisamente por ser racional, sei que seja lá o que a vida for, no máximo será o somatório das experiências que ocorrem até deixar de respirar. O paradoxo é que essa experiência é, dentro de um contexto de religiosidade moderada - melhor.

É melhor acreditar que vou rever pessoas que foram importantes para mim que já faleceram. É melhor acreditar que existe alguma coisa, uma força superior que sabe o que "é certo" e se encarrega de o fazer valer. É melhor acreditar que não há fim para esta coisa que ás vezes não sei bem para que serve, mas que não consigo sentir que seja natural terminar, digo, a minha consciência. É melhor mesmo que não seja verdade. Porque a forma de viver acreditando ou não é inteiramente diferente. Sente-se tudo de forma diferente.

É claro que é discutível se isso é melhor para os outros que estão à volta de quem acredita que pode cruzar os braços e deixar que a força universal se encarregue de fazer o que o próprio pode ter oportunidade de fazer... mas digo para si. Para o crente.

A vida é sempre melhor para o crente. Custa-me admitir isto, mas parece-me à luz dos factos irrevogável.

sábado, 9 de agosto de 2014

Comunhão Comunista


Está muito bem pensada esta fotografia. 

Nunca me tinha ocorrido como desculpamos estas ideias no personagem de jesus. Não nutro especial simpatia nem pelo comunismo nem pelo culto da pobreza, mas a que realmente me toca é a de espirito. 

A única coisa que me tranquiliza é de vez em quando ver rasgos de inteligência na multidão. Vivo num mundo diferente do de há 20 anos, mas com todas as dificuldades que continua a apresentar parece-me bem melhor que o outro. 

A minha mãe conta que tinha de atravessar um barranco 24 vezes com uns sapatos (leia-se umas socas) em cima do gelo, quilómetros serra a fora para chegar a uma escola de instrução primária que era uma manjedoura adaptada.  Quando ela me fala nisso, sinto as minhas frustrações irrisórias e tenho de me lembrar da capacidade da espécie humana e da desigualdade para legitimar a minha revolta. Quando ela nasceu já havia quem fosse estudar para Londres e Paris.. ali mesmo ao lado de onde ela cuidava em porcos e mondava trigo. Ainda é do tempo em que se esperava que as pessoas nascessem com destino.

É claro que estamos muito longe de ter um mundo onde isso não seja uma factor de peso, mas pelo menos estamos num onde fica mal negar a hipótese. Custou, mas lá fui obrigada a apreender que o mundo não é justo, que a ideia de que o planeta nos deve alguma coisa é produto da arrogância de uma espécie que ainda agora acordou para a consciência de si, para se compreender como um organismo e que por enquanto singrar é um jogo muito sujo, por vezes sangrento até, onde é praticamente impossível trilhar sem ludibriar ou ferir. Falta conseguir convencer-me que vou ter de flexibilizar a minha integridade... mas isso fica para outro post lá para dia de são nunca quando compreender como é que isso se faz.

Penso muitas vezes nisto. Escondemos as fabricas, a mão de obra escrava, o desumanismo da humanidade como quem esconde os esgotos, os matadouros. As ruas da civilização estão limpas, mas os túneis estão podres. Aquilo que se fala como tendo sido conquistado ainda é um sonho que só existe para 8 ou 9% da humanidade e existe aos ombros de boa parte dos outros 90.

O Futuro pode ser diferente, por agora para ir a publico professar que o caminho da humanidade é a compaixão e a empatia , leia-se empatia na pratica e não só na teoria, esperando incitar acção sem receber insultos é necessário ser divino. 


quinta-feira, 7 de agosto de 2014

white hats

re-tropecei num dos meus videos preferidos.

Pausa para olhar para o lado bom da humanidade. Individuos que usam a capacidade que têm para inovar, a compulsão que têm de aprender, para o progresso da humanidade e não para destruir, para arremessar, para proveito próprio.

Hackers Testifying at the United States Senate, May 19, 1998 






segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Escala e direcção

Previsões de crescimento da população.



Gostava que mais pessoas vissem bem este gráfico. Que olhassem bem para ele. Que vissem a proporção da população que compra iphones em contraste com a população que ainda consome nokias que não são "smart". Talvez assim se evitassem comentários ignóbeis quando se levantam questões acerca da sustentabilidade do consumo de energia ou do consumo de carne.

Tenho dificuldade em conviver com a arrogância. Uma pessoa arrogante não pode ser muito inteligente...   tome-se por hipótese que o tipo ou tipa é mais esperto de 98% da população. Sendo que somos 7 000 000 000 pessoas... há 140 milhões de pessoas mais espertas no planeta. São sensivelmente 1.6 Alemanhas só com pessoas mais espertas. O que é isso de ser melhor? O que é ser mais esperto? É QI? É QE? é numerário em papel moeda? É posição accionista? É sangue azul ou cinzento?

Sonho com o dia em que acordo num planeta que acarinha a inteligibilidade acima da inteligência e a empatia acima dos estratos. Que admira a inclusão e não a exclusividade, o contributo e não a reserva  ou controlo de valor.

Há qualquer coisa neste modelo de "ser humano", que é maquinal, inconsistente, insustentável, hipócrita.

Se é para ser para todos, deve ser para todos, isso implica incluir os outros 90% da população mundial, que por sua vez implica computar o seu acesso a toneladas de plástico, petróleo, comida, água, habitação... O planeta é finito.. Não me parece um desafio nada simples... sendo que não acredito em milagres, nem num pai divino que me vá salvar de uma guerra por água ou terra fértil, é uma questão que me preocupa e para a qual não consigo olhar com leviandade.

http://en.wikipedia.org/wiki/Human_overpopulation

domingo, 27 de julho de 2014

Deus outra vez. Quando é que a humanidade cresce e sai de casa?

Todos os caminhos neste tema vão dar à  primeira causa, mas a primeira causa é um axioma. Como todos os axiomas é algo que se assume como verdadeiro. Ora qualquer teorema construido com base em axiomas falsos é falso. Portanto assumir que a hipótese de deus é viável depende da validade que se queira dar à primeira causa.

Depois há aquela velha questão da fé como instrumento de descoberta de verdade. Um instrumento alicerçado na razão. Ora se há coisa de que não temos duvida nenhuma é que a nossa capacidade de racionar é faltosa. Influenciada por limitações que  extravasam as nossas necessidades de sobrevivencia . ex a nossa dificuldade em lidar com números muito grandes ou imaginar um objecto a rodar em 4 ou mais dimensões. É como dizer que a melhor forma de medir uma recta no deserto é com uma régua plástica que dilata com o calor. Como é que alguém é capaz de defender que vai obter uma boa medida? Que a régua plástica sensível ao calor é um instrumento adequado para medir no deserto?

Outra questão que não compreendo na larga maioria dos ritos religiosos é porque é que um deus criador, omnipotente e omnisciente necessita que criaturas efémeras e frágeis o defendam. Toda a sociedade religiosa tem leis que criminalizam a blasfémia. A própria palavra blasfémia é um argumento contra a hipótese de deus. Que raio de deus criador é que se importaria com as acções de um verme humano? Mais. Porque é que um deus criador teria sentimentos? Não vejo a emoção como um sentido diferente do tacto ou da visão. É um sensor que ajuda as criaturas que dele dispõem a interagir com o ambiente que as envolve, ajuda-as a detectar perigo e a organizar-se em grupos que cooperam.  Deus cooperaria com quem? teria medo de quem ou do quê? O unico motivo pela qual a emoção é um mistério é  porque ainda não sabemos medi-la, logo também não a compreendemos, mas suspeito que será mistério resolúvel. Porque é que teria um propósito? O propósito só faz sentido para criaturas efémeras.  Algo eterno e indestrutível, eventualmente teria cumprido todos os propósitos... Imagino que seria terrivelmente enfadonho ser omisciente e omnipotente.

Tudo indica que não há Pai nenhum atrás das nuvens. Quanto mais sabemos sobre o universo, para mais longe no tempo e no espaço se empurra o deus criador. Penso nele como um sonho que a humanidade teve, um alivio inconsciente do peso de ser consciente de si, de se saber finito, imperfeito, fraco.

O primeiro dia da humanidade, O dia em que a humanidade sair da casa de Deus, será o seu primeiro dia livre.  Não sei como agirá, mas suspeito que será uma espécie mais madura, mais ponderada, mais realista, mais respeitosa do outro.

Ao contrário do que sustentaram tantos teístas por esse universo fora.. O ateu compreende que só há esta vida, portanto a vida é muito mais valiosa do que se houvesse um céu onde aterrar depois de descolar daqui. Isso incute um respeito enorme pela vida dos outros. Porque? por empatia. É uma coisa que nasce com a larga maioria dos humanos..

Também compreende que é responsável pelos seus próprios atos, não há nenhum irmão que vá morrer para espiar os seus pecados, nem algum pai para o perdoar.

Nas palavras do mentor do homem aranha:
"com grande liberdade vem grande responsabilidade".

sexta-feira, 25 de julho de 2014

os maus que resolvam os problemas

Está na moda:
- Porcos! Filhos da Prússia dos politicos. São todos isto e aquilo, obsceno e coiso. Eu pago e eles levam. Incompetentes.
- Então mas afinal quantos partidos há em Portugal?
- Há laranja, azul, cor de rosa, vermelho e os outros.
- Quem são os outros?
- Passa nas tardes da Julia?
- Não!.. Se não conhece os outros vai votar em quem?
- Eu ou não voto porque são todos amarelos ou só voto laranja ou cor de rosa porque os outros são tão pequenos que nunca conseguiam fazer nada.

- O que é a democracia?
[silêncio]

- se vota sempre nos mesmos como é que quer alguma coisa mude?
- Eles são todos uns porcos, deviam resolver os problemas mas só estão lá para encher o pandulho.

ELES  QUE RESOLVAM.


Errado amigo! Errado. e-responsável!  responsável seria participar. 

A democracia não são eles. A democracia é você. 


É uma realidade cruel, mas se as pessoas a encarassem teríamos um país diferente. Eles estão lá porque você contribuiu, ou por não votar ou por votar neles.  



Um dia tropecei neste canal 
Nem tem directamente a ver com politica e muito menos com Portugual. O rapaz é activista de direitos dos homens. Isto pode soar estranho, em PT nem sequer existe alguma organização com esse intuito. Fui lá dar porque uma das estratégias que estes movimentos estão a usar é "cascar" nas feministas e ocasionalmente... nas mulheres em geral.. porque.. porque não irritar mais um bocado?

Long story short. Mudou a minha forma de pensar não só sobre direitos humanos, mas sobre politica também. Ele explica o processo de criar uma organização, as dificuldades que foi encontrando, e porque tomam algumas atitudes.  Coisas relevantes que aprendi: 

- Quando um indivíduo, leia-se: uma pessoa com ideias próprias, sentimentos, objectivos... idiossincrasias! se une a uma organização, é sempre necessário fazer cedências.  É impossível criar uma organização onde toda a a gente pense da mesma maneira, porque as pessoas são diferentes e vai sempre haver pontos de discórdia. 

- É muito mais difícil do que parece estar do lado de lá, a tentar resolver os problemas, chegar ás pessoas certas, fazer passar a mensagem de forma a afectar mudança. 

- É preciso envolver-se. Nem todos podemos ser activistas, mas se calhar podemos ser cidadãos informados, conscientes e participativos. É o mínimo. 

- Dentro de qualquer organização há pessoas bem intencionadas e outras mal intencionadas. Há guerrinhas internas, há lutas por portagonismo e poder... egos. Pessoas portanto. Essas coisas pretas e meio brancas.  

- Ás vezes é util flexibilizar alguns "principios" para atingir o objectivo. No caso dele era ser "desagradável", frontal, seco, provocador em relação feminismo. Este governo mentiu descaradamente sobre os objectivos de governação que iria implementar. Moral à parte, o que interessa a uma organização com um objectivo é cumprir o objectivo. Se os meios não sacrificam o objectivo são válidos. 

Em política há muitos tons de cinzento. É por isso que damos descontos nos impostos a empresas com milhares de milhões de euros em lucro e que temos relações de "amizade" com ditaduras brutais. Se concordo ou não com isto fica para outro post.

Consigo tolerar quase tudo, menos o orgulho na ignorância e na inércia. Especialmente quando ele é acompanhado de indignação por haver alguém que não está a defender os interesses desse ignorante inerte, mesmo que essa pessoa esteja a ser paga para isso. Não é preciso ser muito observador para encontrar profissionalmente alguém que é pago para fazer um trabalho que não faz. Ocasionalmente até se encontra um ou outro que se orgulha disso, que é coisa que nunca compreendi...  e que me irrita de tal forma que costumo desviar o olhar e/ou mudar de assunto. Pessoas... os politicos também são pessoas. Não são santos. Não são diabos. Não são deuses nem fadas. São pessoas... 

São só pessoas. Se esperássemos dos politicos o que esperamos das pessoas, talvez cumpríssemos mais o nosso dever e tolerássemos menos o desprezo que demonstram continuamente por mais de 80% da população Portuguesa. 

Vote. Informe-se e vote. Não aceite que não cumpram o que lhe prometem sem explicações. Não interessa se é doutor ou não. Responsabilidade qualquer adulto tem de ter. O politico é só uma pessoa e também é adulto!




É mesmo nojenta a adulação que se faz a estas figuras. Estive uma vez numa inauguração publica onde estava um ministro. Quando se aproximou a comitiva... nunca tinha visto tantos abutres juntos, tanta bajulação,  tanta falsidade. Fiquei fisicamente indisposta. Juro. Tive de me retirar. Apetecia-me girar: 
- É uma pessoa seus ignóbeis. Parem de lhe lamber as botas. 
Um país onde se tratam os politicos como deuses, não pode esperar que eles se comportem como pessoas... Os deuses nunca foram bons para os Homens. O do Abraão mandou-o matar o filho, limpou a terra pelo menos uma vez, fartou-se de matar bébés e crianças de colo certamente, que não acredito que os "infieis" fossem todos inférteis. Os gregos passavam a vida a infernizar os desgraçados cá em baixo, uns violavam outros matavam. Os Astecas bebiam sangue humano... enfim.. Que valor tem a vida de um homem para um deus? Que valor tem a vida de uma formiga para um homem?



E já agora porque é que as pessoas não indagam mais? 
Leio tanta coisa com respostas. 
Era tão mais feliz se lê-se mais perguntas.  O caminho para uma boa resposta é sempre a pergunta certa. O caminho para a pergunta certa, começa sempre com um pergunta sobre a pergunta. 

As pessoas querem sempre respostas... Ás vezes indago se saberão, resposta a quê? 




terça-feira, 22 de julho de 2014

O jornal que deixou de cheirar para sentir

Comecei a ler jornais com 15 anos. Na altura comprava religiosamente o expresso ao sábado. Havia qualquer coisa naquele ritual de enfiar as narinas entre o papel, esticar as folhas do jornal e enfiar-me lá dentro- sim sou pequena o suficiente para usar o expresso como xaile -  ler coisas novas, que me alegrava. Era uma experiência agradável ler o jornal. Relaxante.  

Saltam-se 15 anos e continuava a ler jornais com regularidade, lia artigos soltos no publico, no diário económico, no expresso. Seguia  o Paulo Morais no facebook. Enfim..

O que mudou? Agora leio o jornal no computador. Já não cheira. O meio já não se sente tão presente, pelo contrário o tema das desgraças aproximou-se. Já não são coisas que acontecem aos outros. Agora quando leio o jornal, sinto que estou a ler o horóscopo.

Vou pagar mais impostos. Se ficar doente deixam-me morrer por falta de material. A divida publica aumentou. Descobriu-se mais um embelezamento de contas. Há outro banco que está para falir. O tempo estragou-me os Sabados e a realidade estragou-me a ficção.

Sim. Os problemas dos outros não são ficticios, mas sejamos francos, na prática é como se fossem.  É uma coisa que acontece à distancia e que raramente temos a energia, ou mesmo capacidade para solucionar.

Um dia percebi que estava terrivelmente deprimida e zangada com o mundo, que me tinha transformado numa pessoa amarga e rude.

Deixei de ler jornais. Agora só leio insólitos e artigos bem dispostos ou do tipo motivacional. Deixei de ver criminal minds e CSI passei a ver coisas tipo startup school e shark tank.

O mundo não mudou muito, mas mudei eu. Percebi que tenho um tempo finito para passar neste planeta, que quando morrer o que vou levar comigo é um somatório de experiências e que a minha liberdade para manipular a percepção que tenho das circunstâncias é muito superior à que tenho de manipular as próprias circunstâncias. Com o devido cuidado para não perder a noção da realidade, consigo viver uma vida tolerável e ter mais espaço mental para investir numa que possa ser agradável novamente. Se por acaso nunca chegar a ser agradável, será sempre melhor que uma vida cheia de sentimentos de impotência, raiva e tristeza. É isso que o jornal trás ultimamente.


Não sei se o Portugal que é, é o Portugal que se lê. Não pode ser. O Portugal que se lê é um doente terminal, um pedinte, um demente, um infectado... Mas há outro Portugal fora dos principais canais de comunicação. Um Portugal arrojado, diferente, alegre. Um Portugal de armas que se recusa a desistir de si mesmo.

Ás vezes quando se está perdido e não se sabe a direcção certa, vai-se por onde se sabe não ser a errada. É como no jogo do quente e do frio. Parece-me que a vida também é assim. Mais tarde ou mais cedo aparece um momento destes.

A maioria das pessoas com quem falo diz-me que o mau conhecido é melhor que o novo que não se sabe se é mau. Eu discordo absolutamente. É uma questão de lógica. A longo prazo um caminho de tentativa e erro, com passos ponderados e sem perca de memória leva a um lugar melhor, o outro não leva a lugar nenhum.

Quando os jornais começarem a falar do Portugal que pode ser melhor, volto a ler. Até lá é o roundup semanal para não me levarem presa por alguma lei pacóvia daquelas que andam na moda, ai perdoem-me a indiscrição, cagar! de repente.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Bichos listados

As pessoas são bichos listados, zebras emocionais, mistelas de preto e branco, com uns cinzentos aqui e ali.

Até eu que tenho a mania que tenho de ser inócua, que dispenso mais energia do que deveria a tentar implementar esse objectivo, às vezes sou horrivelmente inconveniente, rude, brutal.

Enfim.. humana.

A minha mãe tem um cão e uma gata - Não se gostam. Trabalho sempre tarde de janela aberta. A gata entra e sai conforme lhe apraz. Hoje saiu para escuridão e desapareceu num gemido sucedido pelo que  me pareceu um som de mordida e um ladrar de vitória.

Sai para a rua a correr com o telemóvel a servir de lanterna e meti-me a perscrutar uns arbustos que me pareceu esconderem o som. Não dei com nada. O cão estava com ar de quem sabia que tinha feito parvoices... Os cães são um pouco como crianças eternas. Sabem o que não devem fazer, mas fazem na mesma, porque para que servirá a vida se não para fazer o que nos apetece? que é isso das regras? coisa tão estupidamente humana.

Estava capaz de lhe dar cabo do canastro. Não sei o que teria feito se tivesse encontrado a gata morta. Vim sentar-me à secretaria a chorar e a pensar o pior. Mas ela veio outra vez ter comigo. Dei-lhe um abraço desesperado. Não creio que tenha compreendido. Os gatos compreendem menos que os cães.

Gostava de lhe conseguir explicar o que significa respeito, espaço. Gostava de conseguir explicar ao cão como gosto da gata e que isso não tem nada a ver com o que possa sentir por ele. Gostava de lhe explicar o que sinto quando ele a ataca. Não seria o primeiro gato a encontrar o destino nos dentes dele. Gostava que ele tivesse capacidade para compreender.


Devia ter eu capacidade para perdoar essa deficiência cognitiva, mas o meu impulso na presença de selvajaria é sempre selvático - Seja o comportamento primordial humano ou não.

Com azar q.b.... ainda me há de custar a vida um dia.

domingo, 13 de julho de 2014

cogência vs cognição

co·gen·te 
(latim cogens-entisparticípio presente de cogo-ereconstrangerforçarrestringir)
adjectivo de dois géneros
1. Cuja veracidade satisfaz de maneira total e coerciva o entendimento ou o intelecto (ex.: argumento cogente).
2. Que coage ou constrange.


"cogente", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/DLPO/cogente [consultado em 14-07-2014].


cog·ni·ti·vo 
(latim medieval cognitivus)
adjectivo
Relativo à cogniçãoao conhecimento (ex.: desenvolvimento cognitivocompetências cognitivas).

"cognitivo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/DLPO/cognitivo [consultado em 14-07-2014].


Há quem se confunda. As duas palavras definem bem o contraste entre a religião e a ciência.


Dia de são nunca à tarde quando tiver paciência, escrevo um post sobre a importância dos axiomas num teorema. É perfeitamente possível construir um teorema válido sobre axiomas inválidos ou de veracidade "indeterminável". Creio que aquilo que distingue um ateu de um teólogo é a folga que dá ao factor "axioma indeterminável". 


Para mim se é "indeterminável" provavelmente é treta.  Seja a primeira causa que não têm causa, seja o Grande Elefante Verde que zela por mim atrás das nuvens. 

sábado, 12 de julho de 2014

meia gente, meia verdade

Há coisas que conseguimos ignorar até convivermos de perto com elas. A questão da homossexualidade mexe comigo porque inspira crueldade gratuita. A religião e a sua promessa de um modelo de existência, um único chapéu moral que caiba em todas as cabeças. É tão absurdo como um chapéu físico de tamanho único, por mais elástico que tenha, quando se distribuir pelas cabeças se couber, não vai ser igual.

Em prole da ideia de uma segunda vida há quem abdique da única a que tem direito. Mente aos outros, mente a si próprio. Nenhuma amarra é tão forte como aquela que o próprio ata em si mesmo.


Quantos casamentos são uma farsa?  Se é injusto para quem abdica de ser quem é, quão mais injusto é para quem se entrega a quem não pode nunca, por mais que tente, entregar-se em pleno de volta? 

Aplaude-se a mentira como quem aplaude um bezerro esventrado num altar sagrado. É dor com propósito. Em favor de quem?

Nega-se a felicidade plena ao próprio e a quem não sabe ainda que a esperança que tem nunca será preenchida. 

Ás vezes os relacionamentos são isso - impedimentos. É claro que quem está num pensa sempre que é o ultimo, que é o certo, mas a realidade é que somos muitos, somos suficientes para ser impossível numa vida humana conhecer-mo-nos todos. Tantos que nem seria possível reconhecermo-nos todos. Achar que há só uma pessoa com quem ser feliz é absurdo. Impedir o outro de encontrar outra pessoa é igualmente absurdo. 

Há tanta luz nas nossas cidades que já não vemos o que está para lá do escuro. Quem está na rua de uma cidade continua a estar dentro da casa da civilização.

Fazia-nos bem olhar para cima - dá-nos uma noção de escala além da realidade imediata. Aquela luz, daquele ponto no meio de mais do que poderia contar numa noite, chega aos seus olhos potencialmente, depois de viajar milhões de anos. A do sol que está já aqui ao lado leva 8 minutos a chegar à terra. Um dia tem 86 000 segundos, o planeta tem 7000 000 000 pessoas, mais coisa menos coisa.  Se só 2% das pessoas no planeta o compreenderem, dá para fazer um país do tamanho da Alemanha só com pessoas que o compreendem. 

O amor não é um sentido como o tacto? não serve o tacto para sentir textura, temperatura, não nos diz a qualidade da superfície? Como é que isso é diferente do que podemos sentir por outra pessoa? Não nos diz se é seguro aproximar-se? Confiar? A emoção é um sentido como outro qualquer.  

Não consigo encaixar esta coisa de ser natural querer que as pessoas sofram por um ideal que não é util a ninguém. 

Mesmo que existisse um Deus qualquer. Sendo justo teria dado a todos a mesma dificuldade no teste que lhes permitiria aceder a essa tal benção eterna ou ser condenado ao sofrimento eterno. Pelo que não poderiam uns nascer com a cabeça do tamanho do chapéu e outros com uma cabeça que não cabe lá dentro. 

A natureza é cruel porque não tem consciência de si. Não sabe o que é crueldade, mas o bicho homem sabe.

"Não é a minha palavra H., é a palavra de deus."

Não disse, porque compreendo que as horas que tinha para despender no assunto não seriam suficientes para dissolver os anos de coação, mas pensei: 

"Tretas! Mesmo que fosse a palavra de Deus, seria uma palavra traduzida, recortada e colada na tua voz. Deus, nunca o ouvi. Deus, aqui e agora, és tu. É a tua opinião de Deus. O Deus de amor não é cruel." 

O tempo que ainda estiver neste planeta, ei de passa-lo a ser quem sou. Se não agradar a toda a gente, que agrade a quem agrade. Não tenho pretensão de conseguir vestir um chapéu moral que seja do agrado de toda a gente. Sei que isso é impossível. Quando morrer, tudo o que quero é ser inteira. 

Uma pessoa metade é metade vazio. Quando duas metades se juntam, não fazem uma. Metade é gente, metade é à força de não ser.  É preciso duas pessoas inteiras para um nós maior que a soma das partes. 

Não quero ser metade de ninguém, nunca pediria a ninguém para ser metade de mim, não contem comigo para bater palmas a carneiros esventrados. 

sábado, 28 de junho de 2014

Tem horta? Sabe o que são fitofarmaceuticos?

Fito quê?
http://www.portaldaempresa.pt/CVE/pt/Geral/faqs/produtosfitofarmaceuticos/#{2F84EB26-1C6D-40A2-B108-13CF16D699E6}

São produtos que têm como finalidade:

  • Proteger os vegetais ou os produtos vegetais contra todos os organismos nocivos ou prevenir a ação desses organismos, salvo se os produtos em causa se destinarem a ser utilizados principalmente por motivos de higiene e não para a proteção dos vegetais ou dos produtos vegetais;
  • Influenciar os processos vitais dos vegetais - por exemplo, substâncias que influenciem o seu crescimento, mas que não sejam nutrientes;
  • Conservar os produtos vegetais, desde que as substâncias ou produtos em causa não sejam objeto de disposições comunitárias especiais em matéria de conservantes; 
  • Destruir vegetais ou partes de vegetais indesejáveis, com exceção das algas, salvo se os produtos forem aplicados no solo ou na água para a proteção dos vegetais;
  • Limitar ou prevenir o crescimento indesejável de vegetais, com exceção de algas, a menos que os produtos sejam aplicados no solo ou na água para a proteção dos vegetais.


Vulgo "cura". Não conheço um algarvio com horta que não conheça a mosca branca e por consequência as máscaras e os aplicadores... o que talvez não saibam é que lhes espera um investimento de 200 euros em formação ou uma multa que pode oscilar entre  250 e 5.000€ no caso de pessoa singular... para que possam continuar a aplica-la. Mas acautelem-se que ter o papel não chega dado que a lista de regras é extensa e merece leitura:


Como sempre a legislação parece direcionada a empresas mas atentando que a venda será proibida em 2015 a quem não esteja certificado facilmente se depreende que o particular, com horta para consumo próprio será obrigado a certificar-se e a cumprir as mesmas regras das empresas ou a contratar uma empresa para lhe salvar as laranjas. 

Se regra geral sou a favor de regras, da imposição do conhecimento para a realização de trabalhos técnicos, por outro lado quando apanho o estado a sacar aos pacotes de notas pretas a quem não tem dinheiro para sobreviver... dando-lhe a escolher entre a percarização ou um investimento que é para as circunstancias do próprio virtualmente impossível, dentro de um contexto que já existia sem consequências nocivas, fico com ganas. 

Meus senhores, se é um produto que é tão nocivo que exija certificação para ser usado, que só se venda a quem tem certificação. Se é passível de ser aplicado cumprindo as instruções do pacote, sem perigo para o aplicador ou para o ambiente envolvente, para que servem os 200 euros? 

É assim que querem criar emprego em Portugal? Realmente serão necessários muito mais fiscais e formadores para perseguir as poucas hortas que ainda se aventuram no meio dos arbustos.  Vejam lá não vão 3 regos de batatas com cura poluir algum lençol de água! 

É este o país onde 80% das pessoas ganha menos de 900 euros, mas que ofereçe BMW's? BMW  que... nem é necessário ser um ás em estatística, se percebe provavelmente sairá a um desses afortunados dos 900 euros.. se tiver filhos é obrigado a vender imediatamente o carro porque não têm sequer forma de pagar a manutenção.

Talvez se compreenda assim estas novas regras... esta excelsa visão administrativa. Esta... inovação legislativa. Este empenho pelo progresso do país. Que ninguém indague se Portugal é uma república das bananas? basta esticar-se um bocadinho no conhecimento da lei para ter certeza!

O que é que vão inventar a seguir? Ser cidadão em Portugal tem um custo mensal fixo independentemente do rendimento da pessoa? Legaliza-se a prostituição e mandam-se os desempregados para o Bangladesh dar o .. ou abre-se mesmo a casa de meninas e meninos em Lisboa para os chineses que adquiriram cidadania por 300 000€ frequentarem? 

Ahhh PQP! O que é isto Senhores?  Leiam estatísticas antes de fazer leis aberrantes por amor de deus. Ao menos ofereçam formação a quem não possa pagar ou criem e-cursos e façam o exame mais barato, movam as cooperativas para fazer formação em grupos, associem-se às cameras, criem mecanismos que permitam ás pessoas contornar as carências económicas, sem percarizar os resultados. Não... qual quê? contrata-se um exercito de pessoas para vender! a formação. 200 mocas!  Paga ou encerra a horta, se não, paga multa. Não há o minimo de criatividade para adaptar uma solução necessária (assumindo que é, não percebo o suficiente de fitofarmaceuticos para determinar se... ) ao problema que existe. O minimo esforço. Irrita-me veemente!

Merece ainda leitura complementar: 



sexta-feira, 2 de maio de 2014

Como a ideia da vida no céu influencia a vida na terra

Tropecei numa notícia
antiga: http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/europe/ireland/9679840/Pregnant-woman-dies-in-Ireland-after-being-denied-an-abortion.html

A uma indiana a viver na Irlanda foi negada a possibilidade de realizar um aborto, apesar de ser óbvio que a sua vida estava em risco..  O motivo pelo qual negaram a esta mulher escolher continuar a viver:
"A Irlanda é um país católico"

Sempre que me cruzo com pessoas que acham que é necessário sacrificar a vida terrena de alguém em favor da sua vida eterna no céu, sinto um desejo que compreendo ser irracional e deletério, de as ajudar a chegar lá mais depressa!

A hipocrisia é monumental!

Foi com surpresa e horror que li o livro "Posição Missionária" de Christopher Hitchens, sobre a vida e obra de uma figura geralmente acarinhada, inclusivamente por mim (antes de conhecer os factos): Madre Teresa de Calcutá.

Hitchens descreve o pardieiro onde ela mantinha os pobres, uma casa decrépita sem condições, onde os medicamentos escasseiam em numero e género apesar de esta ter recebido milhões de euros em donativos um pouco por todo o mundo.

Entre outras praticas, somos apresentados à recomendação de "batizar às escondidas pessoas no leito da morte", uma prece forçada, muitas vezes sobre pessoas que se sabia serem de outra religião, em favor da eternidade no céu católico. Conhecemos os detalhes de várias situações em que foi negado acesso a recursos médicos, que sabemos terem viabilidade financeira, porque a postura da "casa da morte" era precisamente "ajudar as pessoas a morrer na graça de deus" e não ajuda-las a viver na terra.

O bom relacionamento que mantinha com figuras de moral irrevogavelmente repreensível, o detrimento das condições das instituições a seu cargo em favor da expansão do catecismo...

Na wiki Portuguesa, não há sequer menção às criticas de que foi alvo. O vaticano também deve ter feito ouvidos mocos, porque ela foi canonizada. Talvez por ser uma figura com demasiado peso para desperdiçar.

Quem não tenha paciência de ler o livro, pode sempre dispensar 20 minutos ao documentário. MTC não merece carinho, nem admiração. Talvez mereça pena, simplesmente porque não existem indícios de que em algum momento tenha estado ciente de quão perniciosas eram as decisões que tomou.




A leviandade com que se opina, se decide - sobre a vida dos outros, tomando como premissa a existência de um "ditador celestial"- repugna-me de tal forma que não consigo escrever como.

Nunca ocorre ao "crente" que se o tal deus não existir, é só homicídio por negligência. Esse conceito tão terreno, desconfortável e nefasto... mas pelo menos conivente com a realidade.



quinta-feira, 1 de maio de 2014

Creacionismo/Design Inteligente Vs Evolução || Dogma Vs Cepticismo?

É comum deparar-se com esta afirmação:

Não tenho problema algum em aceitar a teoria da evolução e ao mesmo tempo acreditar em Deus? 

Se pensarmos um pouco sobre o que significa termos evoluído por oposição a ser criados por uma entidade omnisciente, começamos a descobrir questões que põe em causa vários dogmas do cristianismo. Nomeadamente o pecado original. Sem Eden, não existiram humanos perfeitos, portanto ou Deus nos criou imperfeitos, ou não nos criou de todo e neste caso, se existir, será outro deus qualquer.

Ciência e Cepticismo 

Christopher Hitchens já vinha escrevendo com grande sucesso sobre o tema da religião e o seu lado menos “bom”, mas o grande estrondo aconteceu nos últimos anos com a criação da fundação para a razão e a ciência de  Richard Dawkins, que doou o seu “estrelato” à causa de libertar a humanidade do Dogma. O objectivo da fundação não é promover o ateísmo mas sim a ciência e o uso da razão.
Embora seja fácil confundir os dois, sobretudo pela orientação que regra geral tomam os debates. O ponto de partida é o ensino falacioso (ou exclusão em casos extremos) da teoria da evolução em escolas de orientação religiosa, porém dado o que referimos acima isto acaba por agitar a comunidade religiosa que sente, talvez com razão, que a teoria da evolução é uma ameaça à sua visão do mundo.

Está intimamente ligado a outros movimentos como  o “cepticismo”. Notoriamente refira-se, James Randi que há décadas criou o “desafio de 1 milhão de dolares“  comprometendo-se  a entregar esta quantia a quem seja capaz de, num ambiente controlado, providenciar provas de qualquer tipo de actividade sobrenatural. Vários tentaram. Até agora, ninguém conseguiu levar o prémio.

Outras non-profits tem entretanto complementado estes esforços, refira-se por exemplo o “center for applied rationality”   que promove o uso da razão no dia a dia. Alertando para erros de raciocínio comuns e falhas de cognição que todos temos.

Em PT :
Vão surgindo pequenas organizações neste âmbito, embora ainda com poucos membros. Talvez por felizmente, à parte de pequenas anedotas como o Presidente da República deixar escapar em publico que Nossa Senhora tinha ajudado na boa avaliação da Troika.... , não termos escolas "de fe´" patrocinadas com dinheiros públicos, nem organizações dedicadas ao desprezo da ciência.

Comunidade Céptica Portuguesa
Sociedade Ateista Portuguesa



DOGMA


Por oposição a estes movimentos organizados, surgiram também movimentos organizados para defender o criacionismo. Talvez o mais conhecido, por ser também cómico até para grande parte dos crentes. É o museu da criação.


Um espaço onde é possível visitar exposições que ilustram a “história da terra” à luz da (teoria da jovem terra criada) “Young-Earth Creationism”. Segundo Ken Ham o mentor do projecto, os humanos teriam convivido com os dinossauros. Inclusivamente, teriam domesticado os dinossauros. Uma das figuras mais risíveis do espaço é esta:


Outras afirmações intuitivamente falsas incluem:
 - Os dinossauros eram herbívoros.

- A terra tem aproximadamente 6000 anos conforme indicado na biblia.

Recentemente num debate entre Bill Nye (the science guy) e Ken Ham, o primeiro disse ao segundo com alguma graça que existem arvores vivas  com mais anos do que o segundo acredita que o planeta tem de existência.



Curiosamente o mesmo debate que deveria ter acutilado a idiotia envolvente, acabou por aumentar o financiamento disponível para o projecto que agora se aventura na construção de uma réplica da arca de Noé, em tamanho real, avaliada em 150 milhões de dólares.


Outras organizações :
institute for creation research.   Vestido de uma indumentária cientifica, põe em causa o consenso da comunidade cientifica em vários tópicos, sendo o mais frequentemente citado a especiação.
Intelligent Design

De notar também o tipo de linguagem das primeiras para as segundas instituições. Ex. o numero de vezes que ocorre PhD ao referir o nome de algum autor. Regra geral no primeiro grupo, não se referem as credenciais académicas das pessoas envolvidas. No segundo referem-se. De notar também que em qualquer intervenção publica, é comum as pessoas no primeiro grupo precederem opiniões sobre assuntos não directamente relacionados com a sua área, por “Não sou biólogo” ou “”Não sou físico” , enquanto que no segundo grupo nunca ouvi ninguém escusar a “autoridade” das suas credenciais num campo, quando se pronuncia sobre outro. No segundo grupo,  é comum os oradores serem apresentados por quem os cita ou promove unicamente como phD. Como se tirar um doutoramento fosse automaticamente uma certificação de omnisciência.

Nota: Obviamente que a certificação do orador não valida qualquer per si qualquer afirmação que este promova, mas não é absurdo assumir que se alguém estudou alguma coisa durante 10 ou 20 anos, possa ter uma compreensão mais alargada sobre esse tema que outra pessoa que se sentou na sanita ao domingo a pensar sobre isso.  O intuitivo é pelo menos ponderar com mais cuidado uma afirmação que vem do primeiro tipo de pessoa que do segundo. Esta é uma premissa que está no nosso subconsciente… e de que os criacionistas se aproveitam para explorar com descarada desonestidade intelectual.

Ex. David Berlinski um filosofo e matemático. Muito citado por creacionistas, que escreveu vários livros advogando a “complexidade irredutivel“ como argumento contra a teoria da evolução.



Repetidamente revogado por biólogos e até por um matemático conforme ilustra mui claramente este artigo:

HOW ANTI-EVOLUTIONISTS ABUSE MATHEMATICS


Berlinski faz uma interpretação falaciosa do mecanismo de evolução e dele deriva um modelo matemático inapropriado. Na realidade não passa de uma formulação mais sofisticada dos macacos a tentar escrever as peças de Shakespeare. Naturalmente a evolução não pode ser expressa por uma permutação. O autor do artigo acima propõe o uso de cadeias de Markov, que expressam a probabilidade de ocorrência  de uma variável em função de estados anteriores, como sendo mais apropriada para descrever o processo pelo qual organismos evoluem.

O debate tem bifurcado por outros campos, nomeadamente a vacinação, a homeopatia, ou o aquecimento global. Cada um com o seu painel de “cientistas” e estudos falaciosos, com o objectivo de explorar a credulidade que emana da iliteracia cientifica. Se mais nada surgir deste debate cada vez mais institucionalizado, pelo menos será impossível a quem se queira dar ao trabalho de explorar estas questões, não desenvolver um sentido critico que o faça desconfiar de todas as afirmações com que se confronte, especialmente quando elas forem precedidas com grande ênfase pelas credenciais de quem as advoga.


“Os iliteratos do sec. 21 não serão aqueles que não sabem ler ou escrever, mas aqueles que não conseguem aprender, desaprender e reaprender.”
Alvin Toffler









sexta-feira, 11 de abril de 2014

Argumento da Causa Primeira Vs Lavoisier

da wiki

"Argumento cosmológico é um raciocínio filosófico que visa a buscar uma causa primeira (ou uma causa sem causa) para o Universo1 . Por extensão, esse argumento é frequentemente utilizado para a existência de um ser incondicionado e supremo, identificado como Deus.


A premissa básica é que, já que há um universo em vez de nenhum, ele deve ter sido causado por algo ou alguém além dele mesmo. E essa primeira causa deve ser Deus. Esse raciocínio baseia-se na lei da causalidade, que diz que toda coisa finita ou contingente é causada agora por algo além de si mesma ."




Há anos que a questão do inicio do universo me atormenta. Não conseguindo aceitar a figura antropomórfica que me impuseram na infância, acabei por me conformar simplesmente com o facto que o universo era grande e imponente o suficiente para merecer pelo menos tanto quanto deus ser eterno, mas naturalmente esta idea é tão dogmática como a posição contraditória.



Há uma citação de Lavoisier que ficou comigo desde a primeira vez que a li num manual de química.

“Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”



O argumento cosmológico que é o primeiro axioma de todo o teísta, viola este principio. Assume que em algum momento a natureza não existiu.


src http://delacruz-art.cgsociety.org/art/digital-photoshop-art-illestrations-watchmaker-saetilla-2d-915419

Peguemos na ideia do relojeiro. É comum o teísta justificar a necessidade de um criador com o relojeiro. O teísta dirá que o relojeiro cria o relógio. Aqui temos um problema semântico. Porque a criação do universo e a criação do relógio são fundamentalmente diferentes. A primeira afirmação supõe partir do nada para tudo o que existe, a segunda é uma “mera” transformação de metal e vidro num aparelho que mede o tempo.




Sabemos hoje com um grau de confiança suficiente para o declarar como facto, que o nosso corpo é resultado de milhões de anos de evolução, acumulação de pequenas mutações ao longo de muitas gerações. Neste contexto, de criar qualquer coisa capaz de modificar o ambiente, parece-me irrevogável que a natureza tem “inteligência”. A diferença entre as modificações introduzidas pela natureza e aquelas que nós introduzimos, é que a natureza introduz modificações por reacção ao meio envolvente e nós introduzimos modificações por antecipação do que queremos produzir, portanto com intenção.




O processo é essencialmente o mesmo. Esta capacidade para prever e manipular o ambiente (a intenção) é uma ferramenta que não se distingue necessariamente da visão ou do tacto. Uma vantagem evolutiva. Outros animais como os gorilas também usam ferramentas. Embora de forma muito mais rudimentar que nós.




Recentemente confirmamos a hipótese da inflação, que sedimenta o nosso conhecimento sobre o que aconteceu nos primeiros momentos do universo. Sabemos descrever de forma consistente a historia do universo desde o bang até ao primeiro homem. Embora ninguém tenha ainda conseguido elucidar como componentes orgânicos deram origem à vida. Este ponto não invalida o facto de que tudo o que existe está em continua mutação. Quando eu morrer o meu corpo ira decompor-se e “dissolver-se” no ambiente. Exactamente como eu integrei partes do ambiente. A minha consciência dissolversse-a com o corpo que a criou. Não há nenhuma indicação mensurável que essa consciência, que é gerada no corpo, de alguma forma o transcende. Apenas  especulação humana que a história parece conseguir demonstrar com alguma segurança é um misturar de mitos de repetidas civilizações em conflito com a morte.





Somos uma espécie tão arrogante, que não contentes com criar um ser antropomórfico para explicar e gerir a nossa existência “imaterial”. Assumimos que compreendemos o que significa “existir”, bem o suficiente para dizer que o universo “existe” e lhe atribuir finitude.




Nada no universo é criado. Nada é destruído. Tudo se transforma. Porque haveria o próprio universo como um todo de ser diferente de cada uma de suas partes?  É um modelo que contradiz tudo aquilo que sabemos sobre o universo.

“Todos os átomos no seu corpo vieram de uma estrela que explodiu. E os átomos na sua mão esquerda provavelmente vieram de uma estrela diferente dos átomos na sua mão direita. É realmente a coisa mais poética que eu sei sobre o universo. Todos somos pó de estrelas. Não poderia estar aqui se as estrelas não tivessem explodido, porque os elementos - o carbono, nitrogénio, oxigénio, todas as coisas que são importantes para a evolução - não foram criadas no inicio do tempo, foram criadas nos fornos das estrelas e a única forma de elas fazerem parte do seu corpo, é  essas estrelas terem a bondade de explodir. Portanto esqueça Jesus. As estrelas morreram para que você pudesse viver. ”
Lawrence Krauss


domingo, 30 de março de 2014

Nem tudo o que é tradicional é bom


No mundo ocidental onde é cada vez mais difícil legitimar a violência física, a barbárie verbal continua de boa saúde. O insulto não acciona as plaquetas. O resultado do desprezo continuado não aparece depois de umas horas. É coisa para demorar semanas, meses ou anos dependendo do indivíduo. Normalmente os sinais físicos são pouco conclusivos: expressão sisuda, indisposta num rosto de olhos cavernosos o que acaba por dificultar nutrir simpatia pelo ser humano debaixo daquela pele. Será má pessoa?

Gostamos de pensar que somos muito diferentes dos nossos antepassados que aplaudiam o churrasco/enforcamento/separação da cabeça/tortura de dissidentes. Tudo coisas de aspecto muito gráfico, irrevogávelmente repugnantes e imediatamente irreversíveis.

Mas é esta coisa fofa do "amanhã ainda se pode resolver" que faz com que volvidos 38 anos sobre a abolição total da pena de morte ninguém ainda tenha pensado nos malefícios da violência emocional.

Não somos criaturas tão racionais como gostamos de publicitar e sobretudo de dizer a nós próprios.

O que tem isto a ver com tradição? É o lado emocional que nos tolhe a razão. O ser humano é um bicho muito complexo, que nunca se pode considerar sozinho. Têm um "modelo do mundo", uma expectativa do que a sociedade deve ser. Esse modelo é que o que nos permite operar no dia a dia sem queimar os neurónios.  Há tanta coisa que nem pensamos. ex. Como se cumprimenta uma pessoa? porque é que o beijo na bochecha é melhor que o beijo na testa?  Até ideias mais abstractas como "o que significa viver uma vida plena" são fortemente influenciadas pela cultura que nos rodeia.
Quando se abala esse modelo de mundo a resposta não é a mesma que quando alguém nos diz que afinal onde pensávamos que não há nada, no vácuo, há partículas que se formam e destroem num instante ( ideia introduzida pelo livro "a universe from nothing" de Lawrence Krauss ).

É frequente ouvir de altas figuras da vida política portuguesa que o estado deve zelar pela tradição. Deve? Consigo compreender que se preservem os edificios, as obras de arte, as coisas físicas cuja reprodução nunca substituiria o original. Mas a tradição orgânica? As danças? As touradas? Os rituais? A musica? Não é isso dever das populações que as produzem?

Rio-me sempre (de forma estupidamente infantil- confesso) quando vejo este vídeo. Das melhores pérolas que já desenterrei no youtube.



Directamente ao ponto. A tourada precisa do apoio do estado porque cada vez são menos as pessoas que acham que um touro ensanguentado é algo que valha a pena pagar para ver. Faz sentido que todos os anos centenas de milhares de euros do erário publico sejam canalizados para manter os cavalos usados neste espetáculo? Que dever é que um país que já não está minimamente interessado naquele aspecto bárbaro do nosso passado tem de contribuir para ele continuar a existir?


SEPARAÇÃO POR GÉNERO


Durante séculos repetidos sabores do religioso propagaram a ideia de que existem diferenças determinantes entre adultos dos dois géneros e que a sua genitália determina o papel que estes desempenham na sociedade. O seu status e os seus direitos, as suas expectativas e objectivos. 
Conforme estas imagens ilustram, se os caminhos que ambas as sociedades tomaram se transformaram radicalmente, a raiz não difere significativamente. 




MUTILAÇÃO GENITAL 

Masculina- Circuncisão. Para os ortodoxos a pele é tradicionalmente removida pelos lábios da pessoa incumbida o que pode resultar na infecção da criança por herpes ou outras doenças.  
Feminina - Em alguns países africanos é tradição remover o clitoris de forma a que a mulher nunca tenha prazer numa relação sexual. 

cintos de castidade, comuns para mulheres durante a época medieval e posteriormente introduzidos durante a época vitoriana para "ajudar" os homens a não se masturbarem. 



Se é verdade que estes dogmas têm proveniências diferentes. A postura que os perpetua é a postura teísta. A postura de que existe alguma verdade absoluta, imperscrutável, inquestionável, que podemos apenas aceitar, sem exigir compreende-la.

Uma das vozes mais sonantes neste âmbito é a de Sam Harris, autor de "The End of Faith: Religion, Terror, and the Future of Reason". Harris argumenta que a proteção a dogmas religiosos, sob o véu da "liberdade para praticar uma religião", não faz sentido numa sociedade que sabe o suficiente sobre si mesma para compreender que alguns dos princípios dessas religiões são prejudiciais para quem as pratica.

Há quem tenha argumentado que Harris defende uma moral cientifica tão dogmática como a religião e que a ciência é incapaz de explorar a metafísica. Se é verdade que a ciência não têm todas as respostas, não é verdade que seja dogmática. Não existem dogmas em ciência, qualquer teoria cientifica é falsificável.

Por ultimo, se é verdade que a ciência não têm todas as respostas, isso não é um motivo válido para ignorar as respostas que têm, especialmente se se pretende excluir a ciência do debate moral, com base nessa premissa.


A civilização sempre avançou em meios onde se cultivou a diversidade de ideias e a liberdade para questionar. Qualquer esperança numa sociedade capaz de abraçar a inegável diversidade de interpretação do que significa "ser humano", que queira procurar o bem estar dos seus habitantes, nunca poderá escusar-se de reflectir sobre si mesma e por em causa os seus dogmas.

Está mais que na hora de rever o que significa esse "bem estar" e de rever o que sabemos sobre nós próprios sem a sombra do mito sobre a luz da realidade.











sábado, 15 de março de 2014

co-adopção abéculas e bogalhos

Este deve ser um dos temas mais manipulados e mal tratados dos últimos tempos. Todos os artigos que li são superficiais e evadem o cerne da questão. Tinha-me escapado a intervenção do Daniel Sampaio no parlamento, que curiosamente, não vi sequer mencionada em qualquer uma das principais publicações... Não sei se diz alguma coisa acerca do profissionalismo com que abordaram este assunto... mas deixa-me muito apreensiva.

Uma vez que ele fez uma exposição mais profunda e certamente mais diplomática do que eu faria, dei-me ao trabalho de transcrever a audição, que pode ser consultada no site do artv:

20130719Audição de Daniel Sampaio

source:http://milosrajkovic.tumblr.com/

Mas antes... um prefácio em jeito de desabafo.

Co-adopção difere de adopção, porque no primeiro caso ao contrário do segundo, se legisla uma familia que já existe, em que não existe um segundo progenitor com direitos sobre a custódia da criança, mas existe uma figura parental que não é reconhecida para efeitos legais. Ou seja, em caso de morte do progenitor, a criança é retirada à sua família nuclear e entregue ao membro mais próximo da família biológica. Quero realçar aqui a interrupção abrupta daquilo que a criança reconhece como o seu núcleo familiar, em favor do "status quo".

O facto de se ter uma opinião sobre qualquer coisa, não muda essa coisa. A realidade macroscópica não está sujeita aos mesmos trejeitos do mundo quântico onde o observador modifica o que observa. Estas famílias existem independentemente do descontentamento dos moralistas que se passeiam nos espaços de comentário... relacionando a família, portanto aquilo que uma pessoa saudável associaria com almoços, jantares, trabalhos de casa, escolha de universidades, dentistas, vacinas, o apoio na descoberta do que significa estar vivo e fazer parte de uma sociedade... com o anus ou a vagina das figuras parentais. Estes orgulhosos moralistas, homens de família, sim normalmente estes desabafos são de homens com h minúsculo... advogam que "a familia" é uma pilinha e uma vagina, completamente absortos da realidade, que é diversa. Não contentes com imaginar que todas as famílias têm obrigatoriamente uma pilinha e uma vagina, estão convictos que as únicas representações de género com que as crianças convivem são os progenitores. Portanto que "a familia", a imediata, é uma bolha impermeável absolutamente determinante na identidade da criança.

A ignorância é um mal que nos atinge a todos mais tarde ou mais cedo. Eu própria quando me deparei com esta questão a primeira vez, subscrevi à noção que existiria uma diferença mensurável entre uma criança numa família tradicional e uma criança numa família não convencional... mas não confiando no meu intuito.. dado que não conhecia sequer um caso onde isto ocorre-se, fiz uma coisa chocante: fui informar-me! Estava  errada. O consenso actualmente é que o género das figuras parentais, per si, não é relevante para a saúde mental da criança.  Além disto o conceito de família é muito mais permeável que aquela coisa que todos temos no imaginário do Adão e da Eva.

Nisto, finda o desabafo.


19/07/2013 - Audição de Daniel Sampaio

Muito boa tarde a todos os senhores deputados, muito obrigado por esta possibilidade de poder  exprimir o meu ponto de vista sobre este projecto de lei. Queria também agradecer a disponibilidade que tiveram para poder responder à minha dificuldade de horários neste momento do ano lectivo porque além de muitas consultas hospitalares que estão a aumentar devido à crise, estou também em processo de avaliação de duas cadeiras da faculdade e portanto os meus horários estão um bocadinho restritos. Agradeço muito a possibilidade de ouvirem mesmo assim.

Eu tenho três pontos nesta minha exposição inicial e depois terei obviamente à vossa disposição para o que quiserem perguntar e esclarecer. Em primeiro lugar eu penso que o verdadeiro debate tem a ver com  a questão da adopção por casais do mesmo sexo e não sobre co-adopção. Acho que a  grande questão que devia surgir na sociedade Portuguesa devia ser a possibilidade do instituto de adopção ser alargado aos casais do mesmo sexo. Essa é que é a questão fundamental e devo-vos dizer que eu intervi muito pouco no recente debate porque achei que as pessoas não estavam a falar do verdadeiro problema, o verdadeiro problema que está latente e em discussão na minha opinião não é o projecto de lei mas é se os casais do mesmo sexo podem adoptar ou não. Quero deixar bem clara a minha posição  de que.. a minha posição é completamente favorável à adopção por casais do mesmo sexo por razões que mais adiante poderei esclarecer.

Devo-vos dizer aliás que no projecto de lei os próprios legisladores  dizem essa questão, quando dizem a certa altura “não se trata portanto para já de revisitar temas como o de largamente o instituto de adopção a todas as pessoas, solução que a bem da verdade tudo incluiria.” Penso que aqui está o cerne da questão, esta é a verdadeira questão e esta é a solução que tudo incluiria.  Se houvesse vontade política e se fosse votada a questão da adopção todas estas questões ficariam resolvidas e portanto parece que o debate enfermou deste terrível equivoco de estar a discutir uma lei que é uma lei.. um aspecto muito particular e com o qual eu estou absolutamente de acordo, também deixo isso bem claro, mas queria dizer que me parece que a grande questão que teremos que mais tarde ou mais cedo enfrentar na sociedade Portuguesa é a questão da adopção por casais do mesmo sexo. Segundo ponto: Eu queria tentar separar também duas questões que me pareceram também no debate  que se seguiu à  proposta de lei de alguns dos senhores deputados que estão aqui presentes.. que é uma confusão que me parece lamentável, que é a confusão entre aquilo que é natural, da natureza biológica.. tradicional, progenitor, ou seja, portanto daquilo que nós podemos considerar mais tradicional que é o casal ser constituído por um homem e uma mulher e portanto as crianças terem um pai e mãe de sexo diferente. Isso por um lado, por outro lado a confusão existe entre aquilo que é biológico e natural e a confusão existe porque confundiu-se sistematicamente a paternidade biológica com a parentalidade.  Eu acho que esta questão foi muito equivoca, lançou a confusão na sociedade Portuguesa e as duas coisas têm de ser claramente separadas porque ser progenitor não significa ser pai à partida. Progenitor é aquele que, como a palavra indica, que fornece os genes, portanto a paternidade biológica.  Evidentemente um estatuto extremamente importante que sempre tem de ser tido em conta, não se pode legislar sobre crianças e sobre famílias   sem ter em conta os vinculos biológicos são essenciais e basta nós vermos nas questões  por exemplo de guarda pós divorcio, de responsabilidades parentais como muitas vezes essa questão aparece e é importante que apareça quem são os pais biológicos e quem são os padrastos e as madrastas e quem são os pais efectivos. Sendo essa questão importante não pode ser confundida porque: o que é que é ser pai e mãe? Ser pai e mãe é exercer a parentalidade. Este conceito de parentalidade não é um conceito muito antigo, é um conceito relativamente recente. Nós podemos dizer da segunda metade do sec. XX. Alguns programas de computador ainda assinalam como erro a palavra parentalidade, o que eu acho muito interessante. Então o que é que quer dizer a parentalidade? A parentalidade quer dizer a capacidade de ser pai e mãe. Esta capacidade de ser pai e mãe na minha opinião não está reduzida aos pais e mães biológicos. Deve ser atribuída ás pessoas que têm capacidade de exercer essa parentalidade. O que é que nós podemos avançar e definir o que é que é parentalidade? Bom, parentalidade são as pessoas, adultos, que têm capacidade para transmitir segurança. A possibilidade de poderem a nível da saúde das crianças, zelar pela  saúde das crianças zelar também e procurar... estar, fornecer sustento. Porque as crianças não podem sobreviver sozinhas, portanto compete ás pessoas que exercem a parentalidade: segurança, a saúde, o sustento.  Devem ser aqueles que são responsáveis por dirigir a sua educação, a todos os níveis. Devem ser aqueles que os representam quando eles têm menos de 18 anos, portanto as pessoas mais novas como sabem têm que ter um representante e esse representante é aquele que exerce a parentalidade, não é obrigatório que seja o pai ou a mãe biológica. É aquele que está responsável pela educação  da criança, e basicamente e era isto  que eu queria acentuar, são as pessoas que são responsáveis pelo cuidar. São as pessoas que cuidam das crianças e que têm capacidade de cuidar das crianças. Esta expressão cuidar não é muito clara em português, os ingleses têm uma expressão muito mais interessante que é a expressão “to care” e esta expressão do “care”, tomar conta, do cuidar, fornecer afecto, fornecer segurança, fornecer um contexto que seja propício ao desenvolvimento da criança, esta questão de cuidar, não está fatalmente e irrevogávelmente atribuída  ás pessoas que são pais e mães biológicos. Esta faculdade é atribuída às pessoas que num determinado momento da evolução da criança, a têm a seu cargo e são capazes de transmitir esse cuidado.

Eu num texto que escrevi, procurei definir um pouco melhor o cuidar e disse que cuidar é evitar dependências emocionais, porque toda a educação desde o primeiro momento de vida, desde que o bebé existe, a educação deve ser fortemente contra a dependência e aqui falo contra os psiquiatras e os psicólogos passamos a vida a trabalhar crianças e jovens que têm dependências emocionais graves em relação aos seus pais. E portanto a educação é a educação para autonomia. Cuidar é qualquer coisa que deve evitar a dependência emocional que impede a autonomia. A autonomia de uma criança pode-se por exemplo ver com um ano de idade, a capacidade que ela tem de se afastar dos seus pais e poder explorar um território, explorar o mundo sem ter necessidade de agarrar ao pai ou à mãe. Portanto, a capacidade de avançar na exploração do mundo e a educação deve ser nesse sentido. Uma criança de um ano não deve andar sempre ao colo dos pais porque já sabe andar e pode explorar o mundo. Mas dizia eu, evitar dependência emocional que impede a autonomia, mas exige a dimensão ética de reparar o outro. Portanto quem cuida de uma criança, movimento fundamental, de uma criança ou adolescente é reparar nas necessidades, naquilo que o adolescente ou a criança está neste momento a sentir. Nas crianças deve pressupor o estimulo para que possam expressar-se por si mesmas desde muito novas como eu acabei de dizer. Atenção á linguagem que usam com os adultos e a descoberta guiada sobre o que está certo/errado no mundo à sua volta. Portanto a parentalidade deve configurar, na minha opinião, uma educação moral, uma educação que tenha a ver com o reconhecimento da criança e ajudar a criança a reconhecer o mundo  e desde muito cedo a criança saber escolher, adequadamente á sua idade aquilo que está certo ou errado.

O segundo ponto que eu queria aqui dizer é que me parece que em cada momento da vida de uma criança nós devemos ter um ou dois adultos que sejam responsáveis pelo seu cuidar e fatalmente não é necessário, como é óbvio, no meu ponto de vista, que essas pessoas tenham de ser os progenitores. Peço desculpa de evocar a minha própria experiência, mas a maior parte da minha experiência é ver aquilo que nós designamos por pais biológicos tóxicos. Portanto são pais biológicos, mas por razões muito diversas que seria ocioso explicar aqui, são pais que exercem comportamentos lesivos em relação aos seus filhos e uma das grandes tarefas da psicologia e da psiquiatria é justamente poder proporcionar à criança e ao adolescente a possibilidade de ser autónomo e em muitos casos, embora preservando sempre a importância dos laços familiares, ajudar a criança e o adolescente a prosseguir sem ficar dependente dessa toxicidade. Ou seja, há muitos pais biológicos que têm de fornecer os genes, são os progenitores, mas não são as pessoas mais capazes de exercer a parentalidade. Desculpem o parentises mas, no meu serviço estivemos justamente esta manhã a encaminhar através do tribunal um jovem de 17 anos que a familia se recusou a ficar com ele. São pais que eu poderia designar por pais tóxicos, havia muita violência familiar e portanto a solução depois de terapia familiar, de psico farmaco terapia, de terapia individual, de acompanhamento dos pais, de intervenção do serviço social, do internamento em psiquiatria, a solução que nós conseguimos foi que ele fosse para uma instituição. Coisa que para nós é um pouco contra a nossa maneira de trabalhar, mas não tivemos de facto outra saída. Eu dou este exemplo que foi de hoje e que me emocionou muito porque é um exemplo de pais biológicos que não foram capazes de cuidar deste jovem  dos 0 aos 17 anos. A história deste jovem está cheia de toxicidade parental e dificuldades relacionais. Oxalá ele tivesse um casal de avós, um casal de pai e mãe adoptivos, uma família de acolhimento que pudesse tomar conta dele. Não foi isso que aconteceu e terminou numa instituição, com as dificuldades que há de deslocar um jovem de 17 anos por mandato judicial para Castelo Branco. São esses exemplo que eu na minha pratica tenho todos os dias no serviço que dirigo de Unidade de adolescentes do hospital de Santa Maria.


Terceiro e último ponto, senhores deputados. Não se pode neste momento pensar em qualquer legislação que toque a família sem perceber que a família de hoje é apenas um espaço emocional.
Aquilo que nós precisamos de perceber é que temos que garantir ás crianças e aos jovens de hoje, um espaço de emoções relativamente tranquilo, sem que as funções parentais possam ser exercidas com principio meio e fim, aquelas que acabei de referir no ponto numero 2. As famílias são hoje em dia realidades muito diversas. Temos como sabem, famílias com pai e mãe. Temos famílias com só pai ou só mãe. Temos familias reconstruidas ou re-constituidas. Temos famílias com casais do mesmo sexo. Temos uma quantidade enorme de organizações familiares.  O que é importante ver em termos das crianças e em termos daquilo que se designa “do supremo interesse da criança” ou do “superior interesse da criança”, o que interessa ver é se aqueles adultos que estão ali naquele momento, são capazes de assegurar isso ou não. Uma parêntesis para dizer que não está definido e devia estar definido, o que é que se entende pelo supremo interesse da criança. Já tenho visto os maiores atropelos aos interesses da criança, usando esse slogan. Chamo à atenção dos senhores deputados, está uma petição na Assembleia da República em que um grupo de pessoas, pede justamente que a Assembleia da República clarifique o que entende por superior interesse da criança. Penso que todos ganharíamos muitíssimo com isso. Quando nós pensamos falar sobre a família, temos que perceber qual é o ambiente familiar, temos que avaliar. Temos que verificar se naquele momento, naquele momento da vida da criança, ou das crianças, do adolescente ou dos adolescentes, se aqueles adultos que lá estão à volta são capazes de exercer a parentalidade. É mais importante a parentalidade que a paternidade biológica para o desenvolvimento da criança. Não estou a dizer que a paternidade biológica não seja importante, estou a dizer que a parentalidade com as componentes que falei à bocado é mais importante.

O que me parece importante é que se faça avaliação da situação e que sobretudo se compare, que foi outra coisa que eu não vi, não ouvi.. Que se compare o que é uma criança numa instituição e uma criança que vive num ambiente familiar, dentro do ambiente familiar com todas as situações que acabei de dizer, com todas as configurações familiares e outras como acabei de dizer. Ou seja, o que me parece importante é num determinado momento, o que é que é melhor, pegando por exemplo no jovem de hoje? Provisoriamente é melhor que ele esteja numa instituição, mas evidentemente seria muito melhor que ele saísse da sua família biológica para uma família de acolhimento ou para qualquer instituição, aaa.. qualquer agregado familiar de adultos, que não seja institucional. Portanto e com isto termino a questão da discussão cientifica à volta deste tema, parece-me senhores deputados e com as minhas desculpas altamente equivoca, porque eu sou um académico, não é? O meu trabalho, neste momento, na fase em que estou.. enfim, que sou professor catedrático e tenho vários assistentes e professores auxiliares e professores associados e essas coisas todas, o meu trabalho é justamente avaliar estudos. Não é possível em nenhum estudo cientifico, dizer que ele é isento de erros. Não é possível. Todos os estudos seguem determinadas metodologias e todos os estudos são susceptíveis de critica. Portanto eu não concordo e queria deixar isso bem claro. Não concordo que se diga que a ciência demonstra que as familias heterosexuais são melhores que as famílias homossexuais, mas também não concordo, como eu já vi no jornal publico, que se diga as famílias de pessoas do mesmo sexo têm maior capacidade de educar os seus filhos. Esses estudos são carregados de ideologia, parece-me a mim. Esta discussão não é uma discussão cientifica, porque na discussão cientifica nós nunca podemos chegar a uma verdade absoluta. Porque as metodologias são tão diversas, as variáveis que nós estamos a apreciar nos estudos são tão complexas, são tão entre-crusadas, há tantos factores, que evidentemente nós podemos dizer que um estudo é mais robusto que outro, com certeza que sim, isso é possível dizer. Mas dizer que esta família é melhor que outra é muito difícil.  O que me parece que a ciência pode demonstrar e aí com alguma segurança  é: quando uma criança ou um adolescente é educado numa instituição, contra um meio familiar. Instituição versus um meio familiar, ai há muitos estudos que indicam, que a progressão do ponto de vista da saúde mental da criança é mais problemática quando está numa instituição.  Portanto, voltando agora ao projecto de lei, que me parece importante era que se pudesse reflectir sobre o que é que pode acontecer às crianças que não têm um meio familiar adequado e para isso nós precisamos de criar dispositivos a todos os níveis familiares, ambientes familiares, famílias de acolhimento, melhorar a adoção. Todo esse conjunto de circunstâncias, permite que não tenhamos no futuro 11 000 crianças institucionalizadas, que é o que nós temos. Há milhares de crianças com certeza, 11 000, baixou um pouco, Estamos a trabalhar um pouco melhor, mas apesar de tudo é um número significativo e esse é que é quanto a mim o grande objectivo, o que é que se passa nas famílias de pais biológicos na sua grande maioria que levam à institucionalização de crianças como o jovem de 17 anos que eu acabei de falar e de me emocionar esta manhã, com esta situação.  Portanto termino dizendo que me parece que o projecto de lei, toca apenas uma parte do problema, porque a grande questão é a adopção por casais do mesmo sexo. Direi também a concluir que não me parece que haja nenhuma evidencia cientifica, ai posso dizer que permita concluir que  a adopção por casais do mesmo sexo seja lesiva para o desenvolvimento das crianças, acho que isso se pode afirmar. Agora quando se diz que é melhor ou pior ai já não consigo afirmar isso. Olhando de uma forma global para os estudos, o que eu acho que se pode concluir com alguma segurança é que não há ,de facto, nada de lesivo quando as crianças são acolhidas em famílias com pais e.. casais do mesmo sexo. Portanto, no meu ponto de vista acho que este projecto de lei vem preencher, vem dar resposta a uma situação que já existe na prática, como aliás vem destacado no preambulo, o facto de estarmos a legislar sobre uma situação que já existe, isso tem evidentemente valor e interesse, porque permite ao nível de uma criança.  Poder ter um ambiente familiar mais apoiado na lei e isso parece-me importante, até pelos exemplos que vêm aqui e por outros que podemos encontrar. Portanto, parece-me útil este projecto de lei. Espero que em breve a Assembleia da república possa lançar o debate a nível nacional, que tem que ser um debate amplo, eu percebo que estas questões são difíceis. Um debate amplo sobre a adopção sem restrições  por casais do mesmo sexo.

Muito obrigado senhores deputados.



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Termina a intervenção ao minuto 20:10 do vídeo, prosseguem em seguida as questões das várias bancadas.


Posfácio

De destacar os argumentos do PP, que contrariamente aos moralistas da genitália, são capazes de disfarçar aquilo que é claramente uma preocupação moral, com a existência de outros mecanismos legais com efeitos semelhantes e que salvaguardando “a santidade” da paternidade, permitem exercer a parentalidade, nomeadamente o conceito de “Tutor”.

Tudo o resto foi discutido em praça publica. A permeabilidade da identidade de género, a importância de ser claro no que se entende por "superior interesse da criança", o facto de "as crianças se sentirem diminuidas" por terem duas figuras parentais do mesmo sexo ser provavelmente mais um problema dos adultos que das próprias crianças... etc etc etc  No entanto, tendo genuíno interesse em  compreender esta questão,  não dispensaria os ouvidos aos restantes 20 minutos. Pelo que recomendo que se o leitor o faça.

Parece-me que a minha orientação em relação a esta questão é muito clara. Confesso que ao contrário do Professor Daniel Sampaio, tenho alguma dificuldade em compreender a dificuldade desta questão. Especialmente no que se refere a olhar para um casal do mesmo sexo como um casal normal.. com casa, contas para pagar, empregos, debates sobre a orientação vertical dos talheres no escorredor da loiça, o numero de gatos a ter em casa... sei lá, coisas que os casais debatem e que não têm nada a ver com o kamassutra. Compreendo que a maioria das pessoas nunca sequer tenha perdido tempo a pensar nisso... O que me causa alguma confusão são as certezas absolutas que formulam, radicados naquilo que é, na maior parte das vezes, pura intuição. Intuição que vêm de alguém que nunca conviveu com a realidade sobre a qual se pronuncia.

Infelizmente a diferença entre parternidade e parentalidade foi algo que fui obrigada a descobrir por mim mesma assim que o cortex pré frontal deu sinais de vida e plena função.  Não importa porque, mas refira-se apenas que referir a figura que a lei e o dogma me impingiam como pai, como progenitor, era motivo de conforto. Admito por isso, poder ser "tendenciosa"... na importância que dou ao conceito de parentalidade e ao valor que dou ao afecto e ao exemplo, em detrimento do laço de sangue.  Talvez seja por isso que tenho tiques de "radicalismo" neste tema..

Independentemente dos motivos emocionais para que pessoalmente, tenha alguma alergia ao que envolve a inviolabilidade da "família tradicional"... Parece-me claro, pela exposição feita anteriormente pelo professor, que é relevante abandonar o dogma... Que é um tema que merece no mínimo ser perscrutado e reflectido. Sobretudo pelas crianças! Pelo "superior interesse da criança", que ainda ninguém definiu e que aparece no debate publico como um acessório semântico que se alavanca nessa obscuridade para defender os preconceitos e as más inferências de quem o usa.


Nas palavras de Leila Míccolis:
Eu não tenho vergonha
de dizer palavrões,
de sentir secreções
(vaginais ou anais).
As mentiras usuais
que nos fodem sutilmente
essas sim são imorais,
essas sim são indecentes


Termino:
Os princípios "morais" são com certeza parte importante de uma sociedade. São o que a define e admito que seja difícil reverte-los. Com o que eu não consigo compactuar é ver disfarçado aquilo que é claramente "defender a tradição" com "defender aquilo que é melhor" evitando a todo o custo definir o que se defende afinal e o que significa ser "melhor".  Quando se pretende avaliar se uma coisa é melhor que outra, o facto de estar em vigor é um factor absolutamente irrelevante para a conclusão.

Neste caso em concreto têm me chateado sobretudo o circo em que se envolveu esta discussão. Entre a troca de bitaites sobre a importância da genitalia e o que deveria por decreto divino estar-lhe associado, especialmente em artigos de opinião e infelizmente abundante nos espaços de comentário.  Têm-se evadido definir o que está realmente em causa e é por isso que me dei ao trabalho de escrever este post.

Custa-me ver um executivo que não hesitou em despedir quase metade da função pública, em cortar reformas, que falhou completamente todos os compromissos económicos com a sociedade que rege... e que agora vem falar na "importância de defender os valores".  Não é conivente.

Fará realmente sentido que o estado legisle para proteger a "moralidade", não é isso papel de outras instituições ou movimentos como a religião ou a filosofia..  Os dogmas morais merecem proteção do escrutínio secular? Qual é o real valor da tradição para uma sociedade?

Fica para outro post.