domingo, 27 de julho de 2014

Deus outra vez. Quando é que a humanidade cresce e sai de casa?

Todos os caminhos neste tema vão dar à  primeira causa, mas a primeira causa é um axioma. Como todos os axiomas é algo que se assume como verdadeiro. Ora qualquer teorema construido com base em axiomas falsos é falso. Portanto assumir que a hipótese de deus é viável depende da validade que se queira dar à primeira causa.

Depois há aquela velha questão da fé como instrumento de descoberta de verdade. Um instrumento alicerçado na razão. Ora se há coisa de que não temos duvida nenhuma é que a nossa capacidade de racionar é faltosa. Influenciada por limitações que  extravasam as nossas necessidades de sobrevivencia . ex a nossa dificuldade em lidar com números muito grandes ou imaginar um objecto a rodar em 4 ou mais dimensões. É como dizer que a melhor forma de medir uma recta no deserto é com uma régua plástica que dilata com o calor. Como é que alguém é capaz de defender que vai obter uma boa medida? Que a régua plástica sensível ao calor é um instrumento adequado para medir no deserto?

Outra questão que não compreendo na larga maioria dos ritos religiosos é porque é que um deus criador, omnipotente e omnisciente necessita que criaturas efémeras e frágeis o defendam. Toda a sociedade religiosa tem leis que criminalizam a blasfémia. A própria palavra blasfémia é um argumento contra a hipótese de deus. Que raio de deus criador é que se importaria com as acções de um verme humano? Mais. Porque é que um deus criador teria sentimentos? Não vejo a emoção como um sentido diferente do tacto ou da visão. É um sensor que ajuda as criaturas que dele dispõem a interagir com o ambiente que as envolve, ajuda-as a detectar perigo e a organizar-se em grupos que cooperam.  Deus cooperaria com quem? teria medo de quem ou do quê? O unico motivo pela qual a emoção é um mistério é  porque ainda não sabemos medi-la, logo também não a compreendemos, mas suspeito que será mistério resolúvel. Porque é que teria um propósito? O propósito só faz sentido para criaturas efémeras.  Algo eterno e indestrutível, eventualmente teria cumprido todos os propósitos... Imagino que seria terrivelmente enfadonho ser omisciente e omnipotente.

Tudo indica que não há Pai nenhum atrás das nuvens. Quanto mais sabemos sobre o universo, para mais longe no tempo e no espaço se empurra o deus criador. Penso nele como um sonho que a humanidade teve, um alivio inconsciente do peso de ser consciente de si, de se saber finito, imperfeito, fraco.

O primeiro dia da humanidade, O dia em que a humanidade sair da casa de Deus, será o seu primeiro dia livre.  Não sei como agirá, mas suspeito que será uma espécie mais madura, mais ponderada, mais realista, mais respeitosa do outro.

Ao contrário do que sustentaram tantos teístas por esse universo fora.. O ateu compreende que só há esta vida, portanto a vida é muito mais valiosa do que se houvesse um céu onde aterrar depois de descolar daqui. Isso incute um respeito enorme pela vida dos outros. Porque? por empatia. É uma coisa que nasce com a larga maioria dos humanos..

Também compreende que é responsável pelos seus próprios atos, não há nenhum irmão que vá morrer para espiar os seus pecados, nem algum pai para o perdoar.

Nas palavras do mentor do homem aranha:
"com grande liberdade vem grande responsabilidade".

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