Será que as empresas iriam todas á falência? Vamos olhar para os números.
O quadro abaixo é referente às empresas do PSI 20 - ano 2014. Porque estas? porque estas estão cotadas em bolsa e portanto têm relatórios e contas. Além disso são empresas de referência pela sua dimensão e estabilidade.
Empresa | Lucro | Nº Colaboradores | Lucro por colaborador | Quanto Custa +100€ /mês/p trabalhador | Perda de lucro em % |
ALTRI SGPS | 38,865,490 | 662 | 58,709.20 | 794,400 | 2.04% |
BANCO BPI | 163,623,000 | 8,638 | 18,942.23 | 10,365,600 | 6.34% |
BANIF BCO INTL FUN | 254,282,000 | 4,668 | 54,473.44 | 5,601,600 | 2.20% |
BCP | 0 | 17,703 | 0.00 | 21,243,600 | 0.00% |
CTT CORREIOS PRT | 124,302,361 | 12,448 | 9,985.73 | 14,937,600 | 12.02% |
EDP * liquido | 1,040,000,000 | 8,696 | 119,595.22 | 10,435,200 | 1.00% |
EDP RENOVAVEIS * liquido | 126,000,000 | 919 | 137,105.55 | 1,102,800 | 0.88% |
GALP ENERGIA SGPS | 173,394,000 | 6,855 | 25,294.53 | 8,226,000 | 4.74% |
IMPRESA | 11,000,000 | 1,119 | 9,830.21 | 1,342,800 | 12.21% |
JERONIMO MARTINS | 301,711,047 | 86,563 | 3,485.45 | 103,875,600 | 34.43% |
MOTA ENGIL | 50,550,000 | 22,808 | 2,216.33 | 27,369,600 | 54.14% |
NOS SGPS *EBITDA | 510,500,000 | 2,444 | 208,878.89 | 2,932,800 | 0.57% |
PHAROL SGPS (ex PT) | 795,231,136 | ????? | ????? | ???? | ?????? |
PORTUCEL *EBIT | 218300000 | 2,325 | 93,892.47 | 2,790,000 | 1.28% |
REN-REDES ENERG. *EBITDA | 505,200,000 | 641 | 788,143.53 | 769,200 | 0.15% |
SEMAPA SGPS | 12,800,000 | 4,668 | 2,742.07 | 5,601,600 | 43.76% |
SONAE SGPS | 144,000,000 | 40,947 | 3,516.74 | 49,136,400 | 34.12% |
TEIXEIRA DUARTE *EBIT | 84,000,000 | 13,261 | 6,334.36 | 15,913,200 | 18.94% |
Fontes
http://www.teixeiraduarte.pt/assets_live/1182/rc_tdsa_2014_pt_v29.05.2015.pdf
Notas:
BCP Resultado liquido de -226 M euros. Quando um banco tem prejuízo o prejuízo é suportado pelos accionistas. É para isto que serve o capital garantido pelo Core tier I, ao abrigo do Basileia II o BPI apresenta um Core Tier I de 13.8%. Para efeitos do nosso exercício hipotético considera-se o lucro 0.
PHAROL não encontro em qualquer um dos relatórios o numero TOTAL de colaboradores no ano referido.
Tentei sempre que possível anotar o lucro consolidado, ou lucro tributável. Quando esta métrica não esteve disponível o EBIT ou EBITA. Com excepção da EDP/REN que contém apenas resultados consolidados depois de impostos. Um exercício do género com qualidade académica estaria normalizado. Não está! Para o efeito parece-me que qualquer um destes indicadores poderá ser usado para demonstrar o que se pretendia: nenhuma destas empresas entraria em falência técnica mesmo se o aumento se reflectisse em todas as remunerações e não apenas aquelas que se refiram ao ordenado mínimo.
Grãos de sal
- Obviamente o “lucro por colaborador” é uma alavanca estatística que intenta unicamente mostrar a margem existente para se considerar o aumento proposto de forma unanime. Não almeja fazer qualquer tipo de alusão moral, por muito que alguns valores o possam suscitar.
- O Resultado líquido já inclui a despesa com impostos.
- O Número declarado de colaboradores pode não incluir outros colaboradores sem vinculo com a empresa mãe, seja por não terem contracto, seja por terem contrato com empresas de trabalho temporário.
- Considera-se que o número de pessoas não incluído, podendo ser significativo do ponto de vista ético, não é significativo do ponto de vista contabilístico uma vez que como a tabela demonstra, os custos do trabalho nas empresas onde essa questão se possa por, são marginais.
- A larga maioria das empresas aqui listadas são empresas internacionais e os seus resultados não reflectem por isso a saúde do tecido económico Português. Pelo contrário, uma leitura mesmo que diagonal dos relatórios de contas deixa transparecer dificuldades em território nacional (ex. BCP )
- Os efeitos da medida seriam sentidos de forma muito diferente por cada uma destas empresas, dado que não será estapafúrdio especular mesmo sem ter os dados, que a percentagem de remunerações tabeladas pelo mínimo nacional será muito diferente em cada uma.
- A distribuição de colaboradores em território nacional vs outros territórios é muitas vezes assimétrica. Obviamente a ser implementada esta medida afectaria apenas aqueles que estivessem em Portugal e recebessem o ordenado mínimo.
Coisas
Quando me deparei com esta questão o meu instinto foi. O quê? Um aumento de 20% em contra-ciclo económico, esta gente fuma coisas estranhas. A questão do ordenado mínimo é uma coisa que ainda não tenho resolvida e ainda não li nada que contivesse uma conclusão definitiva acerca da eficiência da medida. Problemas:
- Não há garantia que um aumento do rendimento disponível se traduza num aumento do consumo
- Não há nenhuma forma fácil de calcular como o aumento do custo do trabalho se vai traduzir no aumento dos preços.
- Algumas empresas podem passar a não ter capacidade de operar, dado que funcionam com margens muito baixas e o aumento do custo do trabalho pode obrigar a aumentos de preços que inviabilizem os produtos ou serviços que produzam.
Factos estranhos:
- 35% dos contribuintes em Portugal representavam em 2014 94% da coleta de IRS
Há uma assimetria na distribuição de rendimentos que só pode engasgar qualquer pessoa com um tico e um teco que conversem um com o outro. Se ainda assim o custo do trabalho é um problema para as nossas empresas há qualquer coisa que está muito mal no nosso tecido económico.
O que me leva a indagar, com tanta conversa sobre a fraca capacidade produtiva das classes - não executivas. Porque é que ainda ninguém se lembrou de fazer alguma coisa para ajudar os executivos. Cada vez que saí um estudo para avaliar os nossos gestores envergonha o país.
Será assim tão escabroso pensar em alocar parte do orçamento destinado a combater o desemprego para qualificar os gestores das PME's?
A larga, larga maioria das PME's está orientada para competir com base no preço. Num país onde ninguém tem dinheiro, muito menos essas PME's que operam com margens tão baixas que uma pessoa indaga como é que pagam infraestruturas e energia, quanto mais custos do trabalho, puxar as margens para baixo não pode ser boa estratégia. Não ter margem quer dizer não ter lucro, não ter lucro quer dizer estar vulnerável a flutuações de mercado, não ter espaço para investir, torna inútil qualquer ambição, sem ambição não há energia, sem energia não há acção. É uma luta contínua única e exclusivamente pela sobrevivência.
Quem diz qualificar, diz internacionalizar. Criar organismos que ajudem as empresas a penetrar outros mercados. Pode ser uma coisa tão simples como uma linha de apoio, onde esteja alguém capaz de orientar a pessoa para a documentação relevante e/ou para outros organismos que já existem como as embaixadas para fazer a ponte com outros mercados da união.
Voltando aos ordenados. Os senhores todos poderosos têm acesso às bases de dados das finanças, estarão em muito melhor posição de fazer um calculo do género, devidamente normalizado e incluindo apenas a população activa relevante.
Eu gostava muito muito muito de responder a estas perguntas:
1) Quantas empresas entrariam em insolvência sem medidas de consolidação orçamental?
2) Em que regiões do país se encontram?
3) Dado 1) e 2) qual é o espaço que existe no mercado para absorver essas pessoas?
4) Dado um valor médio de "lucro por colaborador" , A maior concentração de contratos pelo ordenado mínimo está em empresas que têm menos "lucro por colaborador" ou é contra-intuitivo?
O Tuga comentador de sofá como é o meu caso, não têm capacidade para responder a estas questões e portanto só pode especular sobre a viabilidade da medida. Sem ver números, não me atrevo a dizer se sim ou sopas.
A única coisa que posso dizer é que tenho a certeza que todo o freelancer e todo o gestor de PME em PT sabe que o país está numa penúria tal, que o mercado interno é uma espécie de deserto em formação onde qualquer charco de oportunidade de negócio está ladeado de uma multidão de animais famintos à procura da sua gota de água. É necessário aumentar o rendimento dos consumidores se queremos algum dia voltar a ter um país que pertence às pessoas que cá habitam, que representa as pessoas que cá habitam e não um somatório dos resultados consolidados de meia dúzia de empresas exportadoras.
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