quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Coisas em que o eleitor não pensa

Coisas que eu espero que as pessoas não tenham pensado, porque se pensaram e chegaram á verborreia que deixam no facebook.. tenho mesmo de emigrar.... 

Trabalho e Dinheiro

Moeda fiduciária, atribuída por um banco central, gerida pelo consórcio de bancos accionistas e  garantida pelos impostos dos estados membros.

Premissas:
 - Todo o ser humano que habite e esteja integrado numa sociedade ocidental necessita de dinheiro para trocar bens e serviços.
 - A escolha de uma actividade profissional resulta de um balancear de factores que geralmente incluem a compensação financeira, a satisfação pessoal, o alinhamento com os principios éticos do individuo.. etc

Lema:
  - Qualquer função que seja desempenhada por uma pessoa, que a obrigue a despender de todo o seu tempo util tem de ser remunerada de forma a garantir a sobrevivência da mesma.

Teorema:
Logo se queremos que os politicos trabalhem a tempo inteiro defendendo o interesse da população e não os seus bolsos, será boa ideia equilibrar a balança dos factores aliciantes ao exercicio dessa função com uma remuneração que deixe de lado a necessidade financeira. Se for suficientemente aliciante, consegue inclusivamente atrair pessoas cuja competência lhes permitiria exercer noutro sitio onde não fosse insultado todos os dias por ter a profissão que tem. Não há mal nenhum na remuneração dos deputados, o que está mal é não existirem mecanismos regulatórios que avaliem o desempenho dos mesmos.... dando origem a deputados mobilia, deputados fantásma e deputados gramofone com opção "bate palminhas". O voto num país com 40% de abstenção não conta como "mecanismo regulatório"... se é que estava a pensar nisso. Não conheço nenhuma outra profissão com tanta liberdade para fazer nenhum. O que não quer dizer que não existam pessoas que façam, felizmente existem, mesmo dentro de partidos que desgosto profundamente.

Democracia Representativa e abstenção 

Portugal tem uma democracia representativa que é diferente e uma democracia participativa
Significa isto que um deputado eleito tem um vinculo com o seu eleitor. Especificamente: 

Artigo 152.º

Representação política
 1. A lei não pode estabelecer limites à conversão dos votos em mandatos por exigência de uma percentagem de votos nacional mínima.
2. Os Deputados representam todo o país e não os círculos por que são eleitos.


Claro que há quem possa ler no artigo 2 uma elevação ética, um compromisso com todos os bichos de 2 pernas que respirem e usem uma casa de banho pelo menos uma vez por dia, mas na prática não é assim. Vamos olhar para o mundo do deputado. 

  •  Está afiliado a um partido 
  •  O partido tem objectivos concretos que apresentou ao eleitorado 
  •  Foi o eleitorado do partido que o elegeu, logo quem o pode despedir é o seu eleitorado. Se perder votos sai. 
  • O partido tem financiamento.
    O financiamento é o que garante a visibilidade do partido, a qualidade das propostas do partido. Logo é absolutamente vital para qualquer partido que queira ser governo.  

Dito isto, os interesses do deputado estão implicitamente alinhados com os do seu eleitorado, mas note-se, desde que não estejam em conflito com as fontes de financiamento. Um partido sem financiamento morre. Se for um partido grande, pode morrer lentamente, mas vai morrer. Porque sem dinheiro para pagar a especialistas, vai cometer erros técnicos que irão corroer a sua imagem, o pouco financiamento que lhe restar desaparece e o eleitorado acaba por abandona-lo.  Posto isto um partido para estar alinhado com as pessoas, TEM de ser financiado pelas pessoas. 

Por ultimo uma democracia representativa só pode funcionar se as acções dos representantes estiverem fortemente vinculadas ao voto. Um país com 40% de abstenção, que elege sempre as duas faces de uma moeda, não vincula coisa nenhuma.  

Os partidos são todos iguais

  • As pessoas são diferentes entre si
  • De forma a poderem actuar com mais impacto,   agrupam-se em conjuntos de pessoas que tenham ideias semelhantes
Portanto, os partidos são organizações constituídas por pessoas com ideias semelhantes, mas obviamente as pessoas individualmente são diferentes entre si o que quer dizer que nem sempre estão de acordo com tudo o que o partido defente.  
  • O partido que forma governo tem acesso ao orçamento de estado 
  • O orçamento de estado financia medidas de apoio a alguns sectores da economia.
    Nota: isto não tem de ser mau, pelo contrário. Um país que saiba gerir correctamente os seus incentivos, não gasta o dinheiro como despesa, é um investimento. Ele volta ao estado sob a forma de impostos. 
Dito isto, um partido que possa formar governo pode dar acesso ao orçamento de estado. O que atrai uma certa classe de indivíduos que tem sido muito noticiada, creio que não tenho de desenvolver este ponto. O que distinguiria os partidos seria o tratamento que dão aos membros que se vêm envolvidos em escândalos, alguns condenados em tribunal, mas como nenhum dos partidos com acesso ao orçamento tomou medidas para se distanciar dessas figuras - pelo contrário - neste ponto em particular, poder-se-á talvez agrupar os partidos com acesso ao orçamento como sendo iguais. Os outros não sabemos. Não vou especular. Mas potencialmente serão diferentes. Logo não podemos dizer que são "TODOS iguais". 

A linha que separa a Esquerda da Direita

A ideologia e a prática dessa ideologia são coisas muito diferentes. Em teoria o comunismo é maravilhoso, na pratica nunca funcionou como vêm nos livros. O feminismo em teoria não é tendencioso no intuito de só proteger as mulheres, na pratica o numero de medidas implementadas para defender o interesse dos homens é marginal. 

A esquerda em teoria defende primeiro as pessoas e depois as empresas, a direita em teoria defende primeiro as empresas depois as pessoas. Ora não é isto que se verifica e a explicação está obviamente nos pontos enunciados acima que explicitam a balança de "fervor ético" vs "necessidade de financiamento e aprovação". 

Não se pode avaliar um partido pelos princípios da sua carta, mas pelas medidas que aprova ou não aprova, que leva á assembleia ou que ajuda a matar.

O estado está convicto que as pessoas são burras 

Esta é a conclusão implícita que podemos retirar do facto de o estado nunca concretizar especificamente o porquê de tomar medidas que claramente prejudicam as pessoas sem lhes trazer beneficio nenhum. 

O discurso costuma ser: 
 - "Vamos absorver este banco porque se não a economia portuguesa vai à falência." 

Mas vai á falência porquê? Se o banco falir quanto é que desaparece da economia portuguesa? quem são os stakeholders do banco? quantos são? que dimensão têm? Como é que se espera que a falência do banco alastre? Que ligações é que têm com outras instituições financeiras? 

Nunca li nenhum comunicado que explicasse isto em linguagem que uma pessoa não técnica pudesse compreender e não me parece que seja assim tão difícil responder a estas perguntas. Assumindo que alguém procurou responde-las, antes de presumir que era o fim do mundo se cada português, mulher, homem ou criança,  não passasse a dever mais 400 euros para o salvar.  Se calhar há óptimas, mui concretas razões pelas quais isto foi boa ideia. É pena os senhores acharem que quem vai pagar a conta é demasiado burro ou  demasiado insignificante para que as elucidem.

Se calhar o estado não está enganado. Acabamos de re-eleger o Passos Coelho.  Os portugueses confiam neste tipo que toma decisões por eles, sem concretizar nada, que não conseguiu conter o aumento da divida publica apesar do brutal aumento de impostos e que se prepara para encontrar mais formas de lhes retirar o pouco dinheiro que lhes resta para sobreviver, porque têm de tapar o dito buraco acima referido. 

As pessoas não querem pagar nada nunca! 

Nunca vi um artigo de jornal a explicar o porquê de ser óptima ideia o estado gastar dinheiro em alguma coisa, mas o estado precisa de dinheiro. Se o estado paga, saiu do bolso de pelo menos um Português. A estrada da aldeia, o centro recreativo, o pavilhão desportivo, o jardim, o centro de saúde... Foi o português que pagou, não foi o presidente de camera que lhe deu. Mais ainda, também lhe pagou o ordenado. 

É de uma desonestidade intelectual inominável, os artificios, a magia financeira com que o estado esconde custos e é especialmente repugnante a arrogância com que os nossos representantes se apropriam do mérito das obras que as pessoas viabilizam. 

Algures entre a vontade do politico de convencer as pessoas que fazia aparecer dinheiro do ar e a vontade das pessoas de nunca pagar nada criou-se uma nuvem escura de compromisso de silencio cúmplice entre um e outro sobre estes factos: 
  • A fonte de rendimento do estado são os impostos, cuja principal fonte são os rendimentos do trabalho e IVA.
    Credit where, credit is due. :) Trabalho fantástico do ministério das finanças. "Orçamento de estado cidadão" onde se pode consultar a distribuição de rendimentos e uma projecção das despesas para 2014.
  • Se o estado gasta, hoje ou depois alguém em Portugal vai pagar essa despesa. 

Pessoalmente não tenho nada contra o estado gastar dinheiro, pelo contrário.  O que não  deve fazer é hipotecar o futuro das pessoas, pelo presente do próprio e/ou do seu partido. 

Há que reconhecer que uma sociedade têm despesas comunitárias que necessitam de ser repartidas. Há que avaliar o tecido económico do país e reconhecer as suas limitações. Se se quer investir com alavancagem, como em qualquer entidade bem gerida, os stakeholders devem ser informados dos riscos que correm!  

Isso pode querer dizer que as pessoas vão pagar mais agora e para isso é necessário ultrapassar o ponto anterior e explicar porque. As pessoas não são assim tão burras... Pensava que a coisa de "os iluminados é que tomam as boas decisões os pacóvios não tem de opinar" já tinha ficado nas lajes das ruas de Paris no sec XVIII... afinal na pratica... Ainda há uma espécie de aristocracia ideológica...  






Sem comentários:

Enviar um comentário

Antes de comentar lembre-se que do outro lado do ecrã está um ser humano. Enquanto escreve, imagine que essa pessoa está do outro lado da sua secretária, de olhos nos seus olhos.