Na prática e no que respeita ao processo eleitoral implica que o presidente pode indigitar governos. Todavia como o orçamento é aprovado no parlamento, se o parlamento não quiser aprovar o governo que o Presidente indigitou, pode reprova-lo. Portanto o Presidente acaba por ser uma figura mais ou menos redundante neste caso.
Ficou claro pelo seu posicionamento desde sempre por nunca ter reconhecido o merecido peso parlamentar ao PS, esperando deste uma atitude de submissão semelhante à que o bloco ou o PCP tiveram perante o PS que o que a coligação almeja, a esperança que têm, a aposta que faz, é que existam dissidentes suficientes dentro do PS para não aprovar a moção de rejeição.
Outra coisa que descobri hoje e não sabia é que Portugal já teve vários governos de iniciativa Presidencial e nunca correram bem.
Governos Constitucionais da Terceira República Portuguesa
- I Governo (1976–1978) — M. Soares
- II Governo (1978) — M. Soares
- III Governo (1978) — A. Nobre da Costa
- IV Governo (1978–1979) — C. A. Mota Pinto
- V Governo (1979–1980) — M. L. Pintasilgo
- VI Governo (1980–1981) — F. Sá Carneiro/D. Freitas do Amaral
- VII Governo (1981) — F. Pinto Balsemão
- VIII Governo (1981–1983) — F. Pinto Balsemão
- IX Governo (1983–1985) — M. Soares
- X Governo (1985–1987) — A. Cavaco Silva
- XI Governo (1987–1991) — A. Cavaco Silva
- XII Governo (1991–1995) — A. Cavaco Silva
- XIII Governo (1995–1999) — A. Guterres
- XIV Governo (1999–2002) — A. Guterres
- XV Governo (2002–2004) — J. M. Durão Barroso
- XVI Governo (2004–2005) — P. Santana Lopes
- XVII Governo (2005–2009) — J. Sócrates
- XVIII Governo (2009–2011) — J. Sócrates
- XIX Governo (2011–presente) — P. Passos Coelho
- XX Governo (aguardando nomeação) — P. Passos Coelho
Mariana Mortágua e Teresa Leal Coelho estiveram hoje no frente a frente e elucidaram muito bem o que se está a passar na democracia Portuguesa.
A Mariana voltou a referir que o bloco reconhece que representa 10% dos Portugueses e que humildemente reconhece que não tem legitimidade democrática para executar o seu programa e portanto escolhe o melhor que pode, que é apoiar um governo que pelo menos parcialmente se enquadra com o seu posicionamento politico e consegue assim implementar pelo menos parte do seu programa eleitoral.
A Teresa levou o programa inteiro a repetir que a coligação ganhou as eleições e portanto deve ser governo, tratando o facto de existir uma maioria de deputados que foram eleitos com o objectivo claro de interromper a linha de desprezo pelo bem estar das populações como "um detalhe" a ser ignorado em favor dos mais 2% de votos que a coligação teve que o PS. Não deixou também de insinuar que um governo de esquerda implica necessariamente um desastre económico, que a esquerda é irresponsável do ponto de vista financeiro e apesar de ter acabado de ouvir que o bloco reconheceu que não podia implementar o seu programa eleitoral repetiu ad nauseum, pontos como a saída da europa, saída do euro, incumprimento do tratado orçamental etc.
Em Português simples a esquerda diz : "temos a maioria dos deputados, prometemos ser responsáveis, vamos governar " a direita diz "nós ganhamos as eleições, vocês têm obrigação de nos deixar governar, mais, estão a mentir porque são uns irresponsáveis - vão causar o econalipse "
Confesso que tenho algum receio, quanto ao cumprimento dos tratados europeus por parte de um governo de esquerda, o que eu não sei é se isso é um medo irracional, se tem fundamento histórico. Faz parte do imaginário que a esquerda "joga dinheiro publico pela janela", mas a verdade é que relanceando o gráfico da divida publica não se vislumbram grandes clivagens entre legislaturas, excepto em 2008 que obviamente não pode contar para nada, porque foi o ano da maior crise económica desde dos anos 30. Além disto, o governo de Sócrates saiu depois da direita ter chumbado um brutal aumento de impostos e cortes na despesa publica, que depois veio a fazer, com mais violência e reclamando mérito. Portanto é tudo um pouco contraditório.
Nem sequer sei como é que poderia fazer uma analise mais detalhada dos comportamentos de uma e de outra. Não há, que eu saiba, nenhum sitio onde se possam consultar uma lista de "principais medidas" por legislatura. Alguém que queira saber o que mudou de um governo para o outro, tem de ler milhares de páginas do diário da republica, onde 99% do que lá se encontra interessa a um publico muito especifico, mas influi zero na vida da população em geral.
É praticamente impossível seguir política em Portugal com clareza e imparcialidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Antes de comentar lembre-se que do outro lado do ecrã está um ser humano. Enquanto escreve, imagine que essa pessoa está do outro lado da sua secretária, de olhos nos seus olhos.